Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep3

O mundo não é coisa fácil de ser moldada, é preciso levar tantas variantes em conta, que as próprias variantes mudam no caminho fazendo com que não haja contas certas.

Um dia, quando Julius era apenas um menino de 8 anos pediu ao seu pai uma bicicleta de presente, era algo meio antiquado até mesmo para o seu tempo, portanto, era caro, o pai lhe prometera, mas,  com uma condição:

– Manter o quarto arrumado, e o quintal limpo.

Durante 5 meses tudo foi com o pensado, Julius tinha cuidado, algumas vezes, até mesmo evitava brincar para não bagunçar nada, porém James, seu primo não tinha nenhum compromisso firmado, transformou o quarto numa filial do inferno, seu pai viu, nada falou, mas no momento oportuno, cobrou o preço. Julius não ganhou a bicicleta, o primo negou ser o responsável pela bagunça, então, aprendeu uma lição:

Não confie em ninguém.

O tempo passara, já se passavam 8 meses do caos e da prisão de Julius e sua cabeça, agora motivada pela mudança se perguntava o que seria do futuro. Não poderia, nem queria, viver para sempre. Fracassara em inventar uma máquina do tempo para dizer a si mesmo que não fizesse nada disso, também havia a questão inexplorada no reflexo temporal transverso. Um termo que ele mesmo inventou para exemplificar coisas que poderiam mudar pelo simples fato de serem tentadas.

Podia morrer. Tic Tac. O tempo voa.

Julius, sabia exatamente quando morreria, isso se nada mudasse, ou melhor, se ele não mudasse nada. Então, estava razoavelmente confortável com os 18 anos que lhe restavam. Nunca teve coragem de ver o que lhe acometeria, somente sabia da data por aproximação, por não encontrar mais a si mesmo em uma faixa de tempo.

Ainda que arriscasse diminuir esses 18 anos, Julius precisa descobrir o que fazer com o poder que tinha nas mãos.

Não poderia deixar uma inteligência artificial no comando, já tinha visto esse futuro e ele não era nada bom para a humanidade que basicamente viraria escrava de si mesmo. Lembrava também dos livros de Asimov e tinha medo. Ainda pior que essa possibilidade, era entregar o “poder” a algum governo, já tinha visto esse futuro também simulando diversos governos no poder, todos se corrompiam ou cometiam erros tolos que os faziam perder o poder.

Precisava pensar, Tic Tac. O tempo voa.

O carro voava sobre nuvens, e de repente uma chuva de post its caia sem parar, neles, apenas uma pergunta:
Por que não me avisou? Tentava responder, mas já não estava no carro, agora lia um antigo jornal com um recado de alguém procurando alguém, ficava exasperado, o grito não saía.

Acordou.

Tinha a resposta para a sua questão.
Viajar no tempo já sabia, não era possível.
Mas, e se o reflexo temporal transverso pudesse viajar. Não ele. Mas um pensamento, não uma pessoa, mas uma mensagem?

A questão era arriscada, afinal, poderia tentar mandar uma mensagem para o futuro e ok, isso não traria consequências já que poderia mudar uma coisa aqui e outra ali e “arrumar” a questão, mas, caso tivesse sucesso, o que seria do futuro? E se a mensagem chegasse errada? O que isso significaria. Precisava testar a hipótese, poderia ser uma saída.

Sentiu-se naquele momento o Frodo em seu momento de glória. Conseguiria abrir mão do anel?

Continua…

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep1

Julia, uma carioca da Baixada Fluminense tentou falar com o filho pelo telefone e não conseguiu, o telefone parecia mudo. Tentou uma mensagem de texto, mesmo resultado, apelou para a internet, nada! Estava sem comunicação.

Matteo era o responsável pelo sistema de sinais de trânsito de Berna, na Suiça, sua manhã estava um inferno como há muito não vivia, os sistemas simplesmente pararam, era necessário o envio de guardas de trânsito para organizar a cidade, mas não havia tanta gente assim disponível, com a baixíssima criminalidade e a confiabilidade do sistema eletrônico, nunca fora preciso. O caos estava instalado.

Ainda que considerasse Julius um criminoso, os equipamentos disponibilizados por ele eram bons demais para serem ignorados, e a NASA era uma das muitas agências do governo que dependiam deles, mas, naquela manhã, eles não funcionaram, anos de pesquisa estavam simplesmente inacessíveis.

Assim o mundo todo parou por absoluto. Até mesmo China e Coréia do Norte que haviam propagandeado que não utilizariam sistemas de um “criminoso” estavam paradas mostrando assim sua mentira e hipocrisia.

Nada funcionava e as consequências foram imediatas. Como nos bons anos do início do século XXI o povo foi às ruas protestar contra a situação. Protestavam contra Julius, contra os governos e as instituições. Queriam de volta as facilidades a que estavam acostumados. Lojas eram depredadas, violência sem aparato policial para conter a fúria imprudente dos manifestantes.

Feridos começam a chegar nos hospitais, mas não há médicos, não há equipamentos funcionando, não enfermeiros, apenas uma estrutura física lembrando as pessoas de quando ainda ficavam doentes e não havia cura ou esperança. O mundo estava pronto para sucumbir, em apenas uma manhã retornou ao século XXIII, mas dessa vez com requintes de crueldade: ninguém sabia como fazer nada, como haviam se acomodado, não tinham conhecimento para qualquer coisa. Não sabiam sequer fazer uma fogueira para preparar um alimento, os fogões elétricos não funcionavam, a própria luz os abandonou.

A ONU ou a OTAN procuravam Julius desesperadamente, incentivaram os países a retirarem quaisquer tipos de sanções ao homem, ele deveria deixar de ser alguém procurado, as coisas estavam piorando rapidamente, a maioria deles aceitou a sugestão e fizeram convites públicos para que Stranger fosse até seu território, até mesmo os Estados Unidos que, em um jogo de cena, omitiu de seus parceiros que havia prendido Julius, que o tinha sob custódia e que pretendia segurá-lo quanto tempo fosse possível. Oficialmente ele seguia desaparecido, era agora alguém preso fora dos registros.

As acusações contra Stranger variavam de quem perguntasse, passava por roubo, participação em organizações terroristas, crime contra o sistema financeiro, enfim… ele praticamente zerava o sistema criminal dos Estados Unidos. Em seu primeiro depoimento, abriu mão de advogados e apenas repetia a pergunta:

– Que mal eu fiz?

A pergunta trouxe estranheza, pois ela também parecia uma interjeição.

A maioria dos investigadores ali presentes morava em uma das casas de Julius, utilizava o celular e a rede de internet de Julius e tinham uma certeza, aquele homem na frente deles parecia apenas mais um homem, não o maior de todos, não o dono do mundo.

A porta se abriu de repente se abriu e o próprio presidente dos Estados Unidos, junto a seus generais mais próximos, entrou na sala de depoimento. Sem rodeios o presidente exigiu:

– Traga de volta os serviços! Agora! Já!

Julius olhou para ele e novamente indagou:

– Que mal eu fiz!?

Continua…

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Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 3

O natal se aproximava rapidamente, daquela data Julius não poderia escapar de modo algum.
Teria que ir para a casa dos seus pais. Já sofria por aquilo, não que não os amasse, amava, mas o trabalho tinha entrado em um estágio que envolvia excitação e alguns resultados bastante promissores, mas, e na vida sempre há um “mas” ela ainda não compreendia como comprimir tempo como uma fita, e isso era crucial.

Seu pai puxou a oração na hora da ceia, religiosa, sua família nunca deixara passar um natal sem reunir todos, o jantar e os presentes eram uma tradição, como em tantos lares, e aquela ceia jamais seria esquecida.

O Pai de Julius, John, contava histórias de sua infância e adolescência e nesta ceia contou como gostava dos finais de ano em que os vaga-lumes apareciam em profusão, como ele e seus amigos aprisionavam os insetos em vidros e a luz permanecia por muito tempo sendo admirado por todos.

Se fosse um desenho animado, uma lâmpada teria aparecido na cabeça de Julius:
– Era isso!

Claro. Era tão simples que era incrível alguém ainda não ter pensado nisso.
Julius se despediu dos pais e do restante da família e voltou ao trabalho na sua casa, já sabia como dominar o tempo.

Basicamente Julius entendeu que o mundo, o universo, enfim, tudo que existe, é um conjunto de prótons, neutrons e elétrons dispostos de diferentes formas e combinações que assim, formavam diferentes corpos. Mas, a simples existência desses elementos já deixava em si um “marca” no universo. Algo invisível, algo intangível, mas que estava lá.

Julius entendeu que para dominar o tempo teria que traduzir essas impressões temporais  em algo que pudesse ser visto pelo ser humano, não demorou muito. Depois de 90 dias, nem mais, nem menos, o mundo mudou.

A frequência traduzida a partir de fórmula matemática de David Hielbert, nada mais fazia do que transformar frequências zeta em uma espécie de sinal de tv aberta.

No dia 25 de Março, às 16h43, Julius conseguiu a sua primeira imagem.
Um casal que ele nunca tinha visto na vida, falando uma língua totalmente desconhecida por ele, discutia algum assunto aleatório.
A mulher vestia um vestido, mas não muito volumoso, branco com rendas e babados, já o homem, um colete preto com uma camisa branca semi-aberta, mangas enroladas e chapéu preto, parecia uma cena de filme antigo, parecia uma casa humilde.

Ele não sabia quem era, aonde era, mas sabia quando era.

A cena que aparecia naquela espécie de tv mostrava um calendário e o ano era visível: 1911.

Continua…

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 2

O que é afinal de contas um dia?
Apenas a soma de horas e minutos para recomeçar em seguida?
Uma fase da vida?
Uma jornada?

Julius não tinha resposta para esse dilema que lhe acertara com força, afinal os dias perderam o valor para ele.
Já se iam 30 dias desde que Karen, a moça que mal conhecia, mas que amava com todas as forças do seu coração partira para não voltar.

Se ao menos ele pudesse viver mais um dia com ela.
Ouvir suas histórias, descobrir o que afinal de contas fez com que ela lhe desse atenção…
Mas não, ela se fora para sempre.

Minutos, dias, horas, tudo empilhado formavam uma conexão entre si, e isso, afinal de contas, era invenção? Era física? Era matemática?
O que era o tempo?
E se… E se houvesse um modo de domar o tempo? Fazer com que andasse para frente ou para trás?
Uma máquina do tempo? Não. As variáveis são tão subjetivas que apenas a tentativa já geraria muito risco para a vida.

Mas, o tempo tem necessariamente relação com o que chamamos dias, horas?

Depois de 30 dias, Julius retornou às aulas no MIT com uma convicção:
iria domar o tempo.

Afinal, quem “isso” pensa que é para determinar quando possamos ou não viver algo?
Falou com seus orientadores e pediu tempo para pesquisar, foi concedido, afinal, aquela mente não aprendera nada novo desde o primeiro ano.

O tempo.
Domar o tempo.

O tempo, aquele que deveria ser domado passou, Julius não saia de casa para nada.
Sua mãe e seu pai o visitavam vez ou outra para ver como ele estava.

Não entendiam como um romance de algumas horas poderia ter causado aquele efeito em Julius.
Tia Selma, tinha certeza de que se tratava de feitiço, era preciso quebrar.
Julius se divertia com aquilo e garantia que estava tudo bem.

Karen, era a inspiração, é verdade, mas o trabalho já tomara o coração de Julius e virou obsessão.
Era 13 de dezembro, seu amigo, na verdade, tinham se visto algumas vezes na Universidade, o convidara para o aniversário, mas ele não queria sair. Estava frio, a neve tomava as ruas e se acumulava…

Então, como alguém que lembra de comprar leite no final do dia, Julius teve a epifania.

Sim, ele iria conseguir domar o tempo.

Continua…

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

O mundo não é uma dicotomia

Talvez você pense assim.
Mas, está errado.

A vida não é uma dicotomia.
A vida é um sopro.

Ao perder tempo para a violência, para o grito, para a palavra baixa.
Você perde tempo.

Tempo não vota.
Tempo não volta.
Tempo não se compra.
Tempo não faz quarentena.
Tempo não usa máscara.

O tempo vai embora!

Não importa a sua crença.
Não importa a sua cor.
Não importa o que você acha.
O tempo vai embora.

Você pode escolher:
Ir com o tempo levando sabedoria.
Ir com o tempo levando selvageria.

Mas uma coisa é certa:
O mundo não é uma dicotomia.

Tempo, será?

Acabo de postar no twitter, “compro tempo, paga-se bem…” e logo após ter apertado a tecla “enter” pensei, para quê?  Para ver o vídeo de um débil mental contando como foi que matou o cartunista  Glauber e depois atirou em policiais no intuito de chegar ao Paraguai? Para ver o policial que mal preparado tomou um tiro da própria arma enquanto fazia uma batida? Para ver São Paulo passando vergonha mundial com a prova da Indy ou ainda para ler que o Rio de Janeiro não tem dinheiro para fazer as Olimpíadas caso os royaltes do petróleo não sejam mantidos, nessa chantagem barata do governador? Não,eu errei! Não preciso de mais tempo, ou melhor, preciso de mais tempo para coisas que não posso ter.

Preciso mais tempo com minha família, com meus amigos, com os esportes que sempre postergo começar. Preciso de mais tempo para  tentar decifrar esse enigma terrível, “ser ou não ser”. Sim, ser!

Fico pensando: como dormem a noite os abutres do dinheiro público? Como dorme o governador do DF ao saber que o dinheiro fácil colocado em uma sacola fez com milhares de pessoas de seu estado passassem fome diariamente? Como dormem os presidentes, líderes, ditadores que matam com diferentes justificativas povos de diferentes histórias?

Como dorme o deputado que matou e ainda não pagou? Como dorme o juiz que 10 anos depois adiou novamente o julgamento do caso Zanella? Como dormem? Como? Já escrevi aqui que sofro por antecipação, se devo uma agulha ao colega ao lado não durmo, porque sabe-se lá se ele precisará ou não da bendita agulha…

Existem pessoas que são más por natureza, nasceram assim, não tem muito o que fazer, são más, fazem o mal, sabem que é o mal, mas ainda assim, deitam e dormem. Como?

Nosso país tem jeito? Não sei! O que sei é que enquanto formos bonequinhos manipulados tais como fantoches, e aqui me incluo solenemente, sou apenas um bitolado da história, sou mais curioso, mas ainda assim manipulado. Tenho convicções tão contaminadas pela opinião de terceiras e incrustadas na minha personalidade que nem lembro mais o que era ou o que pensava. Mas de uma coisa sei, deito e durmo, não tenho atitudes que prejudiquem, que roubem ou algo que o valha, certamente tenho menos recursos que aqueles que hoje tem muito tempo para planejar suas maldades.

Afinal, para que eu quero mais tempo mesmo? Melhor ficar concentrado no trabalho e esquecer o mundo a minha volta.