É pelo dinheiro ou pelo direito?

fistofpowerleftHá muito tempo convivo com os movimentos sociais, tive um panorama mais intimo com ele quando era presidente da Pastoral da Juventude, entidade da igreja católica reconhecidamente ligada aos movimentos, essa convivência entre eu e os movimentos não duraram mais que três meses, eu perguntava e questionava demais, algo que os responsáveis por esses movimentos (e entenda que isso é um generalização) não estão nem um pouquinho acostumados.

Mas o que movimentos sociais e sindicalistas tem em comum, tudo. Cada um deles luta, e quando digo luta, estou sendo literal, por algo que acredita, por algo que quer, não importa muito se isso é bom ou ruim para o movimento, se é bom ou ruim para a população, importa se é bom para eles, e isso é modus operandi. No final das contas, as boas pessoas que participam dos movimentos sociais, a senhora que perdeu sua casa pela especulação imobiliária e hoje invade terrenos junto com o MTST, o senhor que durante toda a sua vida trabalhou na agricultura e de uma hora por outra não teve fôlego para concorrer com os grandes latifúndios, perdeu sua terra e hoje participa do MST e tudo que ele quer é um pedaço de terra para plantar. Essas pessoas existem, essas pessoas engrossam os movimentos e são sua maioria, mas, ao contrário do que preza a democracia, não elegem quem está no comando. Estes apenas pensam eu seus anseios e utilizam boas pessoas como massa de manobra. E aqui vamos colocar a maioria dos presidentes dos sindicatos, sim, me julguem.

Os sindicatos são, ou foram, o maior braço de fiscalização do trabalhador e tem em seu DNA a defesa dos direitos, o afrontamento aos patrões e suas atitudes hostis e seus assédios constantes. Em alguns países diversos sindicatos foram fechados por se corresponder com o crime organizado, no Brasil, um sindicato fazia uma reunião com a presença de representantes do PCC e um deputado. Os sindicatos foram se multiplicando exponencialmente com o passar dos anos e foram ganhando peso e principalmente novas formas se cercear a população daquilo que ela tem direito. Um verdadeiro sequestro aos direitos individuais.

E eu sei que você vai me taxar de coxinha isso ou aquilo, mas vá lá, ainda, e digo ainda pois percorremos caminhos perigosos, de escrever aquilo que bem entender. Os sindicalistas adotaram como tática o sufocamento do estado e a “prisão” da população, diferente de uma democracia de verdade, quem não quer participar da greve é obrigado por força da força. Não importa se você está satisfeito ou não com o seu salário, você terá que parar e pronto. O sindicato mandou, tem que obedecer. Piqueteiros contratados, seguranças-armário garantem que tudo sairá conforme o presidente quer.

Não venham os servis afirmar que tudo é decidido em uma assembleia, não é. O tom que tudo é discutido é que diz o resultado de cada negociação. No meio disso, a população. Não pode usar ônibus porque há um greve decidida meia-noite, os trabalhadores que entendem o contrário, não tem o direito de trabalhar, quando a época é propicia, ainda melhor. Copa do Mundo? O mundo olhando para todos, turistas chegando? Eleições? A vitrine perfeita. A chantagem institucionalizada.

Ontem em São Paulo o ápice, os metroviários não queriam que a população usasse qualquer tipo de transporte, tentaram fechar uma estação que dava acesso à ônibus e trens que nada tinham com a greve, dane-se. Vamos fechar. O povo, aquele gigante que tinha acordado e parece estar sonolento novamente, aos gritos de “queremos trabalhar” furou a barreira imposta e entrou. Alguns taxistas que dia a dia usam suas bandeiras para ganhar o pão de cada dia, entenderam que  dane-se o povo, se quer táxi tem que pagar quanto eu quiser, e uma corrida de pouco mais de 20km em São Paulo custava em média R$ 280. Democracia?

Na Bahia, em Pernambuco os PMs, apesar de vedada por lei, acharam que era uma boa ideia fazer greve, dezenas morreram por falta de policiamento, estupros foram cometidos e um cem número de lojas saqueadas. Na lei o direito de greve e isso todos alardeiam, também está na lei a proibição a greve de agentes da lei, isso é desconsiderado e o rapaz que a incitou, aquele que por conta das greves elegeu-se vereador, é preso, protestos! Democracia?

Quando o poder judiciário julga uma greve ilegal, inconstitucional, ou exige que X% da frota, dos serviços, volte ao serviço principalmente em horários de pico, isso é solenemente ignorado. Nenhum centavo é pago por sindicato algum, a “mulher da cobra da XV” e a justiça dando sua sentença, para essa gente, é a mesma coisa. Democracia?

É evidente e legítimo o sagrado direito de greve, está na lei, é uma conquista e deve ser amplamente respeitada, deve inclusive ser incentivada quando as condições de trabalho não estão de acordo com o previamente combinado, e isso é uma coisa. Outra é fazer da população, da época, da situação, massa de manobra, isso, na minha opinião, é crime.

Acredito que algumas medidas simples, que sim, carecem de lei, diminuiriam esse tipo de atitude, afinal os sindicatos já nos deram um presidente da republica, deputados federais, estaduais e centena de vereadores, mas isso tem que acabar. O que entendo como certo:

  • Líderes sindicais proibidos de participar de eleições durante e pelo prazo de 2 anos após o término de seu mandato
  • Multas impostas pela justiça pagas no momento da sentença, ou paga-se, ou o líder sindical é detido na hora aguardando o fim da greve ou o pagamento da dita multa. Afinal, a justiça é um terreno neutro para resolver toda e qualquer questão.
  • Toda greve que em algum momento for considerada ilegal pela justiça, os seus participantes devem ter seus salários descontados na forma da lei.

Pronto, com essas três medidas as greve seriam todas elas legais. Censura? Não. Lei. Se existe lei é para ser cumprida, ou mudem-se as leis. Mas, não nos enganemos, tudo é questão de dinheiro. Tudo. Quanto mais demissões um setor tiver, menos contribuições ao sindicato haverão. Quanto mais tecnologia tiver, menos funcionários serão necessários, menos contribuição, menos voto, menos poder. Eu sei, tema polêmico, mas vale o debate e a greve, quando justa.