Por que doar?

No momento que escrevo este texto minha tv está ligada no Teleton 15 anos. Para os totalmente excluídos do mundo, o Teleton é um programa de pouco mais de 24 horas apresentado pelo SBT anualmente para arrecadar fundos para manutenção e construção de unidades da AACD. E aí a pergunta: doar ou não doar – para dar cabo ao texto deixo claro minha posição – doar.

Mas vamos lá, não seria uma obrigação do poder público dar todo tipo de assistência possível aos portadores de necessidades especiais que procuram locais como a AACD? Nossos impostos não são suficientes para provermos o melhor para todos? Sim é a resposta para as duas perguntas mas isso não inviabiliza a doação.

Comparemos: Nos Estados Unidos, por exemplo, não há um sistema nacional de saúde público, ou seja, todo mundo tem que pagar por todo tipo de tratamento, é claro há exceções mas fiquemos na regra para exemplificar, isso é feito através dos planos de saúde. Além disso há na cultura do americano doações dos mais ricos para faculdades, hospitais, instituições, isso é absolutamente normal, aqui não.

Por outro lado, pagamos mais impostos que os americanos, tutelamos ao estado algo que o americano faz por conta própria. Mas vamos ver outro exemplo, a França: lá também paga-se menos impostos que no Brasil (aliás, onde não se paga?), também há costume de doações espontâneas para instituições, faculdades e hospitais, porém lá o sistema é universal e é público tudo que o francês precisa de atendimento hospitalar ele tem.

E agora, o que diferencia um do outro? Cultura e apenas cultura? Pelo jeito sim. Há, é claro um gigantesco abismo de modos de gestão na saúde pública brasileira, temos poucos médicos e consultórios, os poucos que tem estão concentrados em grandes metrópoles. Há também a diferença do “como” fazemos. Aos poucos tentamos implementar a prevenção como modo de saúde, ainda é precário, ainda é básico e ainda é encarado como uma espécie de estágio para o mundo da medicina.

Então contemos nossos problemas:
Temos problemas de gestão
Temos défict no número de profissionais
Temos poucos hospitais
Temos baixos salários, o que afasta a possibilidade de profissionais almejarem carreira como médicos de família.

Qual é a solução? Tempo?

O tempo será um dos grandes aliados, mas não pelo tempo pelo tempo, mas sim porque iremos aos poucos tomando consciência de que podemos mais, de que devemos exigir mais e a qualidade dos serviços irão melhorar. Também, com o tempo iremos perceber que também nós podemos e devemos fazer nossa parte como parte ativa da sociedade.

Então a doação faz parte sim de uma sociedade madura e na minha opinião deve ser feita com regularidade. O show que vemos em programas como o Teleton faz parte de nossa sociedade pouco habituada com o gesto, o tempo irá se encarregar, espero e torço, de acabar com o show e transformar doações em hábitos tão enraizados quanto o pagamento do IPVA.

Lembremos claro que você não precisa doar apenas dinheiro, você pode doar tempo. Pequenas tarefas em instituições, conheço uma moça (não gosta de publicidade por isso não citarei seu nome) que uma vez por semana vai a grande orfanato de Curitiba para ensinar as crianças a fazer do seu dia a dia mais sustentável. Pouco? Muito? Depende de quem olha… depende de quem compara… depende de quem recebe…

Para terminar, espero que você entenda que o texto aqui não é um apelo ao seu emocional pela doação, mas sim um apelo ao seu intelecto. Quanto melhor estiver a sociedade que você vive mais chances você terá de prosperar, então, deixando de lado qualquer sentimentalismo barato entenda que a cada dia você pode fazer toda a diferença no mundo em que vive.

O tapete do SUS

Poucas coisas me revoltam mais que casos como este, um homem, trabalhador, não deve satisfações da sua vida a ninguém salvo sua consciência, é agredido física e verbalmente por mauricinhos, canalhas, covardes, travestidos de estudantes de medicina.

Eles são muito bem resolvidos financeiramente, tem dinheiro para pagar um ótimo advogado que certamente conseguirá na justiça uma liminar que os reintegre as aulas em sua universidade, em um futuro próximo eles se formarão, atenderão em luxuosos consultórios ou até mesmo no famigerado, porém necessário, SUS, e certamente creditarão ao sistema de saúde brasileiro o péssimo atendimento.

Esses alunos contam com um aliado poderoso, o tempo. Sim, daqui seis meses, o pobre  Geraldo continuará trabalhando e ganhando o miserável salário que ganha. Os alunos, se condenados, prestarão serviço comunitário, mas como são primários, algumas cestas básicas irão resolver o problema.

No Brasil as coisas são assim, temos leis e mais leis para defender tudo e todos, mas elas funcionam apenas para aqueles que podem pagar para usufruir dessas leis. O seu Geraldo por exemplo, fica a mercê da boa vontade e por que não dizer da sorte.
Sim, ele nada tem na vida, até mesmo sua indignação é tímida, sua cobrança certamente será acanhada, até que tudo se perca na imensidão do calendário.

Os estudantes que convenientemente não tem seus nomes divulgados, serão chamados de doutores enquanto seu Geraldo, já velhinho espera em uma fila qualquer do sistema público de saúde para ser atendido. Quem sabe seu Geraldo leve a sorte ou o azar de ser atendido por um dos três, aí, esperamos que não haja tapetes nas salas.