Do coitadismo e de outras síndromes

1850-happy-sad-facesA ideia do coitadismo sempre me incomodou. Acho muito cômodo as pessoas percorrerem este caminho como ponto de apoio para responder as suas mazelas pessoais. A síndrome do coitadismo ocorre quando alguém, ou muitos alguéns, apontam você (uma pessoa qualquer) como responsável pelo ato que resultou em fracasso. A arma do “coitado”? Culpar um terceiro ou a uma situação qualquer pelo seu fracasso pessoal. O coitado meio que não pensa, ele simplesmente se defende, aliás, perde mais tempo se defendendo do que atacando as causas de seus problemas. Ele está sem dinheiro por culpa da economia, está endividado por culpa das altas nos preços, está sozinho porque as pessoas não o compreendem, está desempregado porque não vagas com o seu perfil, não recebe aumento porque na empresa não reconhecem o seu trabalho.

Na vida, sempre encontraremos exemplos idênticos com finais diferentes, pessoas que nasceram e foram criados em comunidades de extrema pobreza, com famílias igualmente desestruturadas, frequentaram o mesmo ensino público, porém, um chegou até a universidade e hoje é um profissional respeitado, outro morreu ou está preso por pertencer ao crime. Mesmas oportunidades, jeitos diferentes de fazer e enfrentar a vida. Um deles não teve tempo para desculpas.Desculpas, desculpas e desculpas. No livro “Quem Mexeu no Meu Queijo“, isto está patente. Enquanto um apenas reclama do seu infortúnio e aguarda uma resolução divina, o outro vai em busca de seus objetivos.

Objetivos. Você tem os seus? Os tenha. Eles são, sem dúvida o motor propulsor do seu crescimento, e entenda: você sempre terá um inimigo e um obstáculo. O inimigo é íntimo, ele é que faz você ser ainda melhor. Muitas vezes ele nem sabe que é teu inimigo, muitas vezes você não sabe, mas ele existe. Assim como o grande truque do diabo é fazer acreditar que ele não existe, o seu inimigo tem o mesmo perfil, ele se esconde. Alguns inimigos são conhecidos, a preguiça, a inveja, o orgulho, eles se mostram, é fácil identificá-los. Outros você vai ter que descobrir sozinho. O desânimo, o sentimento de impotência, a acomodação. Estes ficam na surdina, pacientes, esperam o momento certo de atacar. Em regra, você reage mal ao obstáculo, mas, se estiver consciente, sacode a poeira e segue.

Invariavelmente você terá que enfrentar outro inimigo, esse é de carne e osso. A pessoa com síndrome de coitadismo. E esse é duro de combater. Essa pessoa não faz nada para sair da mesma. Mas, quando você sai, não perde a oportunidade de lhe criticar. Ele está sempre precisando de mais atenção. As vezes se demonstra gente boa. Mas nunca, jamais lhe diz “parabéns”. E atenção: preste muita atenção. O coitadismo é contagioso. Sim. Você, de uma hora para outra, não mais que de uma hora para outra, lá está  você se lamuriando de tudo que lhe ocorreu.

Sua vida merece mais. Seus sentimentos merecem mais. Não importa se você der uma “baqueada” de vez em quando, fique tranquilo. Siga fazendo o bom trabalho. Não fique arrogante a ponto de pensar que tudo o que fez é perfeito. Não é. Também não torne-se amargo entendendo que as pessoas são injustas com relação à você. Podem até ser, mas são elas, o que você faz com a informação é que te diferencial, e, acima de tudo, seja sempre feliz. No final das contas, é isso o que mais importa.

 

 

Inveja no trabalho? Inveja no trabalho?

Ok, ok, admito que o título te levou ao erro como se quando chegasse ao final desta leitura encontrasse uma resposta, mas não é o caso aqui, me desculpe. Dito isto vamos ao trabalho.

A inveja é aquela coisa que te leva à loucura, ou que te deixa para baixo, ou que nos piores casos te leva a pedir demissão só para não conviver com aquela pessoa. E para te deixar ainda mais confuso há dois tipos de inveja: a neutra e a que quer te derrubar.

A neutra é tranquila, todo mundo sente, todo mundo convive com ela. É aquele sentimento que você tem ou que a pessoa que trabalha com você sente com o seu sucesso. Ela quer ter o mesmo sucesso com você, mas ok, não faz nada contra você, não mente sobre você, no máximo faz uma fofoquinha na hora do café dizendo que você está saindo com alguém para ter aquele cargo.

Agora, a inveja que quer te derrubar, prepare-se, você terá problemas. No filme A Inveja Mata, essa prática é, de maneira caricata, colocada em evidência. Para o invejoso não basta o sucesso dele, ele quer ver também o seu fracasso. A sorte é que na maioria das vezes o invejoso é infinitamente incompetente. Ele não tem tempo para estudar, entender o projeto ou mesmo prestar atenção em uma reunião porque ele está prestando atenção em você. Ele quer saber o que você está falando para criticar depois. O invejoso está pensando em que loja da esquina você comprou aquela roupa cafona, se for de marca pensa que é imitação.

O invejoso quer te derrubar não para pegar o seu lugar, ele não se importa com isso, ele quer te derrubar simplesmente porque não aguenta o seu sucesso. Não importa se você tem o mesmo cargo ou o mesmo salário do invejoso, ele não pode ver você sorrir, ele não pode ver você sendo elogiado. O invejoso é assim, é a lei do quanto pior, melhor.

Depois de algum tempo um dos dois sempre vence a batalha, ou você porque cresceu na empresa e teve a chance de demitir a pessoa que puxa toda a equipe para baixo, ou o invejo que de tanto te atormentar se obrigou a enviar centenas de currículos para mudar de emprego ou simplesmente pediu a conta. Aí o invejoso vai começar a invejar o seu substituto.

Identificar o invejoso não é fácil, e agora a bomba, alguns nem sabem que são invejosos ou que está fazendo mal para você, isso é fato e torna o todo ainda pior. Mas algumas diquinhas podem ser levadas em consideração na tentativa de identificar o invejoso perto de você:

• Ele nunca te diz nada ruim quando você pergunta, mas sempre que pode faz um comentário depreciativo a seu respeito para os outros, na sua frente ou não.
• O invejoso não sabe a diferença entre uma crítica construtiva e uma destrutiva, você simplesmente irrita ele e acabou.
• Para identificar o invejoso conte a ele algum fato pitoresco da sua vida pessoal tipo uma viagem para algum lugar exótico, se ele contar para você como não gosta disso, como jamais faria tal viagem… Cuidado.

Volto a reforçar: o bom invejoso existe sim. Ele quer ser tão bom, ter tanto sucesso quanto você. Quer ter o seu carro, a sua casa, ou até mesmo uma família como a sua, mas ele não se importa se você tenha também, ele apenas quer e para isso ele vai trabalhar e não te sacanear.

A identidade autofagica da sociedade

Mais cedo procurei no Aurélio, sim o dicionário, o significado de autofagismo, não encontrei. Talvez porque o termo seja tão pouco usado no restante do mundo que não lhes interesse o verbete, mas não no Brasil e muito menos no Paraná. Na ciência autofagia nada mais é que o autoextermínio, ou seja, uma célula precisa se reciclar e acaba exterminando a si mesma, é basicamente o processo do emagrecimento. Você corta a comida, a célula precisa de comida e acaba por abocanhar o que tem por perto, inclusive ela mesma, para tentar aplacar a sede de “forças”.

Trocando em miúdos como diriam os portugueses, autofagismo é aquilo que a gente faz quando desvaloriza algo nosso e supervaloriza o do semelhante, na prática é assim:  o Corinthians é melhor time que o Atlético e o Coxa simplesmente porque é de São Paulo (aqui não entremos no mérito do futebol), entendeu. A empresa que o seu vizinho em que ele ganha a mesma coisa que você, trabalha o mesmo período que você é melhor e ponto. É você enquanto ser pensante de uma sociedade tenta acabar consigo mesmo.

No Paraná, e deve ser assim em alguns outros lugares do Brasil mas como não conheço não comentarei, a “coisa” é bem pior. Encontramos algo melhor que o que fazemos aqui com a maior tranqüilidade. Nada que fazemos é tão bom quanto o que vizinho faz. E entendam que não estamos falando aqui da qualidade em si, pode até ser que o vizinho de fato seja melhor, porém aqui falamos sobre impressões.

Outro dia, o amigo Boby Vendramin (que com certeza irá me contestar dizendo que não era isso que ele queria dizer) me apresentou um vídeo segundo ele “animal”. No vídeo um cidadão questionava uma legião de fãs e pais que aguardavam horas pelo show de uma banda que na opinião dele tinha um som “trash”. Argumentei com Boby que aqui no Paraná isso já fora feito milhares de vezes e nem por isso teria merecido o comentário “animal” dele e que ele próprio com seu talento ímpar já teria feito coisas muito melhores. Isso é autofagismo.

Mais um exemplo? Outro dia estava na redação e um consultor comercial da empresa para qual eu trabalho elogiou efusivamente a ação editorial que outro estado fez, ocorre que  os primeiros a colocar em prática tal ação fomos nós, aqui no Paraná mesmo, isso é autofagismo.
O autofagismo é o mal da impressão, é o talvez como diria Nelson Rodrigues um complexo de vira-latas, é um mal da nossa sociedade. Aprender a nos valorizar e a valorizar nossas ações além de coisas que nos circundam falam mais de nossa cultura do que de nós mesmos, porém, é inerente ao nosso próprio crescimento e até mesmo sobrevivência de nossa identidade que trabalhemos isso com urgência.

Não precisamos com isso nos tornarmos soberbos, mas sim termos nossa própria identidade afim de tentarmos evitar nosso autofagismo cultural literalmente falando