A identidade autofagica da sociedade

Mais cedo procurei no Aurélio, sim o dicionário, o significado de autofagismo, não encontrei. Talvez porque o termo seja tão pouco usado no restante do mundo que não lhes interesse o verbete, mas não no Brasil e muito menos no Paraná. Na ciência autofagia nada mais é que o autoextermínio, ou seja, uma célula precisa se reciclar e acaba exterminando a si mesma, é basicamente o processo do emagrecimento. Você corta a comida, a célula precisa de comida e acaba por abocanhar o que tem por perto, inclusive ela mesma, para tentar aplacar a sede de “forças”.

Trocando em miúdos como diriam os portugueses, autofagismo é aquilo que a gente faz quando desvaloriza algo nosso e supervaloriza o do semelhante, na prática é assim:  o Corinthians é melhor time que o Atlético e o Coxa simplesmente porque é de São Paulo (aqui não entremos no mérito do futebol), entendeu. A empresa que o seu vizinho em que ele ganha a mesma coisa que você, trabalha o mesmo período que você é melhor e ponto. É você enquanto ser pensante de uma sociedade tenta acabar consigo mesmo.

No Paraná, e deve ser assim em alguns outros lugares do Brasil mas como não conheço não comentarei, a “coisa” é bem pior. Encontramos algo melhor que o que fazemos aqui com a maior tranqüilidade. Nada que fazemos é tão bom quanto o que vizinho faz. E entendam que não estamos falando aqui da qualidade em si, pode até ser que o vizinho de fato seja melhor, porém aqui falamos sobre impressões.

Outro dia, o amigo Boby Vendramin (que com certeza irá me contestar dizendo que não era isso que ele queria dizer) me apresentou um vídeo segundo ele “animal”. No vídeo um cidadão questionava uma legião de fãs e pais que aguardavam horas pelo show de uma banda que na opinião dele tinha um som “trash”. Argumentei com Boby que aqui no Paraná isso já fora feito milhares de vezes e nem por isso teria merecido o comentário “animal” dele e que ele próprio com seu talento ímpar já teria feito coisas muito melhores. Isso é autofagismo.

Mais um exemplo? Outro dia estava na redação e um consultor comercial da empresa para qual eu trabalho elogiou efusivamente a ação editorial que outro estado fez, ocorre que  os primeiros a colocar em prática tal ação fomos nós, aqui no Paraná mesmo, isso é autofagismo.
O autofagismo é o mal da impressão, é o talvez como diria Nelson Rodrigues um complexo de vira-latas, é um mal da nossa sociedade. Aprender a nos valorizar e a valorizar nossas ações além de coisas que nos circundam falam mais de nossa cultura do que de nós mesmos, porém, é inerente ao nosso próprio crescimento e até mesmo sobrevivência de nossa identidade que trabalhemos isso com urgência.

Não precisamos com isso nos tornarmos soberbos, mas sim termos nossa própria identidade afim de tentarmos evitar nosso autofagismo cultural literalmente falando