Siga o meu conselho, não seja criativo

creativeHá um antigo vídeo, que tornou-se febre nos emails (era isso que usavam antes das redes sociais) dava um conselho simples: “use filtro solar”, pois tomo a liberdade de lhe dar outro: “não seja criativo”, ao menos em Curitba.

Em Curitiba a coisa funciona mais ou menos assim:

As pessoas reclamam que os governantes gastam dinheiro em coisas tolas ou que existem outras prioridades, investir em shows, carnaval e outras coisas do tipo são tidas como algum tipo de heresia jamais perdoada nas rodas da Boca Maldita ou nos blogs “especializados” em política. Gostar de carnaval, por exemplo, é mais ou menos o mesmo que admitir que você veio de algum mundo distante mas não, você não pode ser curitibano.

A nova investida dos curitibanos que não gostam de ter o seu meio de vida, convicções ou sossego perturbados é o pedido dos moradores para o que o Bar do Torto do quase lendário Magrão feche as portas do bar e da mente já que não querem mais a realização da anual Quadra Cultural.

Falei outra vez aqui no blog sobre “bom gosto” ou sobre aquilo que se pensa ser “bom gosto” e acho que aí está a razão de tudo, Magrão está trazendo “gente diferenciada” para a Quadra, Jerry Adriani? Amado Batista? Talvez se o evento contasse com o Quarteto de Cordas Iguaçu (que aliás é ótimo) talvez a “ranhisse” não fosse tamanha.

O fato é que, Magrão faz o que faz de peito aberto, não conta com patrocínio dos governos, contrata a infra-estrutura sozinho e faz coisas que ninguém faz. E por que ninguém faz? Porque em Curitiba é proibido ser criativo. Em Curitiba é proibido sair do lugar comum. Se você faz um show que não se enquadra nos padrões curitibanos de qualidade já vai dar confusão.

Apesar de ser um evento anual os moradores não querem e parece que o Ministério Público concorda com eles. A Quadra Cultural certamente mudará de local. E a vitória da chatisse curitibana.
O próximo evento não aceito pelos guardiões dos bons costumes curitbanos é o chamado revéillon fora de época. Também não se enquadra.

Não conheço pessoalmente o senhor Magrão e nem os organizadores do revéillon, para falar a verdade nem gosto dos eventos, mas e daí? O que a minha opinião tem com isso? Sou eu contra, 6, 7, 8, 9, 10 mil pessoas que estão se divertindo (sem dinheiro público). No final, viva a democracia, desde que ela tenha tudo que eu quero

Acontece uma vez por ano e salvo acidentes intergaláticos ninguém irá sofrer danos permanentes por ter a sua paz perturbada uma vez por ano. E se ainda assim os argumentos destas pessoas forem considerados válidos, tenho propostas para fazer:

Fechemos a Arena da Baixada, afinal serão 45 mil pessoas gritando, pulando, perturbando a paz.
Fechemos o Couto Pereira, afinal são 45 mil pessoas gritando, pulando, perturbando a paz.
Fechemos todos os bares da XV, do Largo, do Centro, afinal são milhares de pessoas bebendo, conversando, gritando, perturbando a paz.
Fechemos também o evento de Natal do Palácio Avenida, afinal a cada ano, durante 20 dias centenas de crianças tem suas voz amplificada em canções natalinas, o que reúne milhares de pessoas que emocionadas aplaudem e gritam, perturbam a paz.

Aliás, por que não fechamos todo e qualquer lugar com aglomeração de pessoas e assim garantimos nosso jeito curitibano de viver?

Vão por mim e sigam meu conselho, abandonem já a criatividade, esse é tão ou mais importante do que usar ou não o filtro solar.

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