O que é interesse público no jornalismo?

Me formei em jornalismo em 2002, na época a profissão já cambaleava entre jornalões chapa-brancas e o início da concorrência com blogs, na gringa, os grandes portais começam a ganhar a guerra. Jornalismo para mim é sagrado, ele, quando feito de maneira profissional molda a sociedade para o seu melhor. Cobra de quem é preciso cobrar, aponta erros e desvios, volta sua metralhadora de informações para todos aqueles que tentam esconder os fatos.

Basicamente jornalismo de verdade é fazer perguntas que os outros não querem que sejam feitas.
Jornalista é aquele que sendo comunista aponta todos os defeitos do comunismo, sendo capitalismo mostra o seu pior lado.

Jornalista gosta de história, de verdade.

Todos as grandes mudanças do Brasil vieram por meio da imprensa, às vezes atendendo interesses, outras apenas em busca do “furo”, mas mudava, incomodava.

Um dia, chegou Gilmar Mendes e seus pares do STF, atendendo a uma solicitação do patronato e acabou com a exigência do diploma para o exercício da profissão, nesse dia, o jornalismo em entrou em estado de coma e de lá não deve sair. Hoje, 2023, vivendo do passado, alguns até tentam voltar com essa exigência, sou contra, não faz mais sentido, o tempo atropelou o caso. Todos são jornalistas atualmente, sem que ninguém tenha responsabilidade sobre isso.

Ontem, 13 de abril de 2023, me deparei com uma postagem de um conhecido influenciador esportivo do Paraná sobre como o filho de um goleiro condenado pelo assassinato de uma modelo, que leva o nome do pai e da mãe, estava jogando como goleiro do Athlético Paranaense. Batizando o caso como “rolê aleatório”, o influenciador dava nome, sobrenome, posição e, foto. Quando cobrado sobre o motivo daquela divulgação se defendeu dizendo que “logo todos saberiam…”.

Infelizmente ele estava certo, ainda que tenha sido o motivador daquilo. No dia seguinte, os veículos de imprensa começaram a dar a notícia como se aquilo fora de fato notícia. Não é. É fofoca, é lidar com a curiosidade mórbida do ser humano que se refastela na miséria humana diariamente. Divulgar aquele fato é colocar mais um peso nas costas de um moleque de 13 anos que cresceu convivendo com fantasmas que ele não pediu, que viu seu rosto pixelado diversas vezes na tv, toda vez que alguém lembrava de como a mãe fora morta pelo pai.

Ele não tem chance de errar. Ele não tem nem mesmo o direito do anonimato, leva o nome do pai e da mãe, está no futebol na mesma posição do pai.  Assim como o pêndulo da ironia e do paradoxo está no debate público sendo julgado por algo que sua idade não deveria enfrentar.

Ao contrário dos moleques com quem convive, se errar… não puxou o pai. Se for bom… puxou o pai. Se um dia, arrumar briga em campo, algo extremamente comum na sua idade, pode ter puxado o pai. Será que as pessoas que divulgaram isso, ainda que “desejando o melhor” se reponsabilizarão pelo que possa acontecer com o menino e seu psicológico?

Triste o jornalismo que covalesce e logo morrerá de vez.
Não é um lamento, é uma certeza, não há mais o que fazer.

Uma conta alta demais para o futuro

Desde que eu me lembro, sempre tive como meta o jornalismo. Sempre brinquei de jornalismo, fazia jornais com a mão, até que aos poucos fui publicando meus próprios jornais “de verdade” e fiz disso uma profissão. Lembro também do primeiro processo, esse a gente nunca esquece, e um me desculpem os novatos, mas jornalista de verdade tem que incomodar os poderosos a ponto deles tentarem te calar pelo dinheiro, aqui representado pelos processos.

Hoje, estou mais longe desse mundo, cuido de comunicação mas não de jornalismo, porém, ele ainda me é caro. Acompanho curioso cada movimento que esse xadrez complicado do poder dá, acompanho ainda mais de perto, por força do ofício, a tecnologia e posso afirmar para vocês, claro, dentro da ignorância de hoje, que é menor do que a de ontem e muito maior que a de amanhã:

Estamos fazendo uma conta alta demais para o futuro.

Vou explicar, calma.  No comércio, algo muito comum quando se desconfia que alguém está roubando é: deixe mais coisas à vista para serem roubadas, acompanhe, flagre, demita e ponto final, ou seja, cada vez dê mais corda para que se enforquem sozinhos.

O que estamos hoje? Temos muita corda. Caíram do céu?
Não.

Tudo que está a nossa volta tem motivos específicos, atendem a propósitos muitas vezes não republicanos, não passamos de peões em um intrínseco jogo que de fato, não jogamos. Com a tecnologia nos foi ofertada a “liberdade”. Não precisamos mais destes “abutres” da imprensa para nos dizer o que está acontecendo no mundo, basta eu me conectar ao Facebook. Nada mais será como antes, agora nós, o povo, temos poder.

É verdade. Agora, troque a palavra poder pela palavra corda.

Ganhamos muita corda e ninguém está reclamando. Junto com a corda veio também um presentinho que faz toda a diferença, e esse é dificil de explicar, assim como tudo que não querem que a gente entenda. Chama-se algoritmo.

É basicamente o seguinte:
Junte um povo que lê muito pouco (o povo do mundo inteiro), dê a ele algo muito legal, que faça você encontrar os amigos, distribua fartamente a noção de que toda a imprensa atende aos propósitos dos poderosos e não aos seus, unam-se em comunidades para protestar contra isso e acrescente o ingrediente final: o algoritmo.

O algoritmo  pode ser milhares de coisas, mas neste caso é uma programação usada em 9 a cada 10 redes sociais que faz o seguinte: mostra pra você aquilo que potencialmente você quer ver. Por exemplo, você gosta de futebol, na sua timeline irá surgir muito futebol, e quanto mais você interagir com o algoritmo “futebol” mais futebol irá aparecer, é simples, é genial.

Agora, troque “futebol” por, sei lá, PT, PSDB, Dilma, Bolsonaro, ou qualquer outro assunto polêmico. Adivinha o que irá aparecer na sua rede? Sim, aquilo que você mais gosta e interage. Vamos ao exemplo mais recente. Eleições 2014. Quantas vezes você ouviu ou leu:

– Não conheço ninguém que disse que iria votar na Dilma, como ela pode ganhar?

Agora você já sabe o motivo, nosso “amigo” algoritmo fez o trabalho de “esconder” os eleitores da Dilma de você, então, só apareceram os pimpolhos que votavam no Aécio.

Mas se assim fosse, apenas opiniões, ok, quem daria bola? Mas, amigos, temos as queridas Fake News. Sim, elas, as famigeradas notícias falsas. Elas já são mais de 50% dos links de opinião compartilhados. Fake News é antigo, usado desde sempre, mas nunca teve tanta penetração graças ao que hoje chamamos de algoritmo.

O algoritmo, aliado a fake news representa hoje, na opinião deste humilde escriba, a maior ameaça a liberdade de imprensa, liberdade de expressão e jornalismo livre que o mundo já viveu. Está cada vez mais fácil condenar a fake news e a partir daí arrumar desculpas para termos a imprensa oficial (alguém falou 1984 e o ministério da verdade?). Pensa comigo, se estamos vivendo em um mundo onde não sabemos mais o que é verdade e o que não é, que tal termos um departamento público dizendo para você em quem ou em o quê acreditar? É lógico, é seguro, e claro, os governos garantem que não irão censurar nenhum tipo de informação. O que lhe parece?

Qual é a solução? A curto prazo? Nenhuma. Isso também torna a solução de longo prazo impossível. O ser humano se adapta muito rapidamente as situações, e rapidamente vamos nos acostumar ao fim da privacidade em nome da nossa segurança. Emails hackeados pelo governo? Claro, vá em frente. Ligações monitoradas, certo, peguem os caras maus. Imprensa censurada, go! Tudo em nome da “verdade”.

Nós somos assim.

Se já não fosse ameaça suficiente temos o inimigo de sempre: o dinheiro. Sim, o dinheiro compra tudo, incluindo o veículo que ousar ir contra o status quo, incluindo o blog que publique algo “impublicável”. Mas não pense que funciona como uma transação comercial normal, não. Eles são sórdidos e agem nas sombras, ao menos até a velha e tradicional imprensa descobrir o que há de verdade no caso.

Não esqueçam, todos sempre negam em um primeiro momento até que os fatos concordam por eles. Foi assim com Nichoson e o famoso Watergate, foi assim com Collor e a Elba e mais uma centena de exemplos em que a imprensa, ninguém mais senão a imprensa livre descobriu e noticiou.

Vejamos a terra da liberdade. Um blog de reputação bastante questionável publicou um vídeo de um famoso lutador de vale tudo, aqueles vídeos, íntimos, pelados, sexo, enfim, você já entendeu. O que aconteceu, o cara processou a publicação e ganhou 200 milhões de dólares.
Ah, Ediney, você está defendendo que os jornalistas não responsabilizados por seus atos? Não, não é isso, inclusive chamei a publicação de questionável.

Mas vamos aos fatos jornalisticamente falando:
Era verdade? Sim.
Tinha interesse público envolvido? Se fosse apenas o vídeo de sexo, não. Mas o vídeo continha o que de verdade pensava aquele lutador, eram coisas racistas, misóginas e homofóbicas. Além disso, ele era embaixador da boa vontade, ou seja, a opinião dele contava e muito.

Mas, e sempre tem o “mas”, a história não acaba  aqui. Descobriu-se que na verdade, quem bancou todo o processo do lutador que enfrentava problemas financeiros era um milionário da internet, que usou o processo de terceiros para se vingar de uma nota que a publicação dera anos luz no passado sobre ele.

Não se enganem, é tudo sobre o dinheiro.

Eu até terminaria esse texto com conselhos sobre ler a matéria, conferir a fonte, ver a credibilidade do jornalista e investigar, mas definitivamente, quem precisa destes conselhos não chegará até este parágrafo, afinal, como eu disse no começo deste artigo, as pessoas não leem e o algoritmo não deixará que isso se espalhe. Prepare seus filhos, eles pagarão essa conta no futuro, bem próximo.

O jornalismo que sonhei, que vivi, que vejo

movahedian20130127082954687Os incautos que aqui me seguem, ou que ao menos leram o “Sobre” sabem que sou jornalista. Me formei em jornalismo em 2003, meu pai sempre trabalhou com comunicação, me inspirava em figuras jornalísticas populares da minha época como Roberto Cabrini e um jornalista totalmente popular chamado Ney Inácio. Como a maioria dos estudantes desta área, fato reforçado depois da queda do diploma, pensava em mudar o mundo, denunciar as mazelas, e blá, blá, blá, e assim como essa mesma maioria, me enganei.

Hoje sou um empreendedor sofredor e acompanho o jornalismo com curiosidade saudosista. Não mudei o mundo, arrumei um ou outro processo de alvos de antigas reportagens e foi só. Vendo que não iriam permitir que o mundo fosse mudado pelas minhas letras em grandes veículos, criei o meu próprio jornal e então descobri que contas precisavam ser pagas, o jornalismo começou a se misturar com as finanças e diante deste perigoso mundo, desisti do hardnews e me aventurei no mundo do entretenimento de serviço, lindo, contava com um editor sensacional, cito Sérgio Ludtke, bancava matérias mesmo que essas ferissem o ego de anunciantes, um dia ele saiu, essa premissa saiu com ele, pouco depois saí também e assim findou-se, por enquanto talvez, minha carreira jornalística.

Como expectador, tenho acompanhando horrorizado o que acontece com o jornalismo, que graças as redes sociais se perde em um leilão alucinado em busca de likes e shares. Mas vocês me dirão:

– Mas Ediney, sempre foi assim, as redes sociais só trouxeram isso à tona.

Talvez seja verdade, mas atualmente além de vir à tona, piorou, a busca pelo sucesso midiático tem pautado as redações e o pior, construído manchetes. Vamos a um exemplo:
Na semana passada o STF decidiu que as operadoras de telefonia não podem ser obrigadas por lei estadual a instalar bloqueadores de celular em presídios. Um lead absolutamente simples que se tornou:

– STF proíbe bloqueadores de celular em presídios
– STF decide que lei de bloqueadores de celular são inconstitucionais.

e por aí vai…

A questão é: o internauta de rede social, em sua grande maioria, lê manchete, comenta manchete, compartilha manchete, a partir desta premissa não importa que no “corpo da matéria” estejam esmiuçados os poréns, as pessoas simplesmente não irão ler. Bom, temos os jornais impressos e destes as pessoas até podem ser salvas pelo texto todo, mas aí, do seu lado, aí mesmo… quantos estão neste momento com um jornal impresso em mãos? O número de páginas físicas dos jornais diminui a cada mês, você acha que o motivo são as pessoas lerem cada vez mais?

Mais um rápido caso, se você chegou até aqui é guerreiro do povo brasileiro e merece.

Manchete dos jornais e principais portais do país:

– Ronaldo diz que solução para o Brasil é cuspir em adversários.

Entendendo o fato:

Ronaldo (que alías é péssimo comentarista – minha opinião, meu blog) comentando o empate da seleção com o Iraque, disse que faltava o jogador raçudo, que dá carrinho, que grite, que cuspa… e foi isso! Você pode achar o comentário do cidadão horrível, sim! Mas você pode distorcer o que ele falou? Não.

O resultado:

Milhares de pessoas xingando o pobre Ronaldo sem ter a devida contextualização do fato.

Há alguma esperança no front, o Nexo, por enquanto se apresenta como um demonstrador puro de notícias, do tipo isso acontece por conta disso, por outro lado, são cada vez mais populares conteúdos como o do Antagonista, que fazem muito bem o que se propõe, apresentar o seu olhar sobre um fato em nada mais que algumas palavras, estes entenderam que se lê cada vez menos e se opina cada vez mais.

O futuro a Deus, a sua crença ou a sua descrença, pertence, mas que ele se apresenta totalmente nebuloso, com um cheirinho de ministério da verdade, ah, isso se apresenta.

Jornalismo online: em busca do pagamento perdido

journalism_crisis_cartoonA internet, a linda e maravilhosa internet, ela que divide tanto as opiniões, que leva as opiniões ao seus extremos simplesmente mudou tudo. Tudo o que conhecíamos como verdade, como difícil, como fácil, não importa, ela mudou. Para os pobres incautos que escolheram o jornalismo para ganhar a vida, estes tem uma remada ainda maior para dar: convencer que o jornalismo online, também é jornalismo. Se também é jornalismo é preciso que tenha um profissional para escrever as notícias, se precisa de um profissional, este precisa de um salário, se este precisa se um salário, logo é preciso que se obtenha ganho com essa atividade,e é aí que a porca torce o rabo:

– Eu? Pagar por notícias da internet? Nem a pau!
– Que porcaria esse site que só deixa eu ler 10 notícias por mês, agora acabou.

Em um mundo cheio de manchetes que se transformam em textos e que por si só formam as mais diversas opiniões, parece incrível que alguém queira cobrar por algo que certamente se conseguirá de graça em uma rede social qualquer, ou ainda será copiado por um blog que utilizará a velha tática do modo anônimo + inspeção de elementos para conseguir as informações que busca. E aí, a primeira incoerência se apresenta: perceba que a notícia que você está lendo de graça, foi escrita por alguém que é pago, por um empregador e que não terá absolutamente nada por ter disponibilizado aquele conteúdo.

Ok, Ediney, onde está a democratização da informação? Eu respondo: onde sempre esteve; nos blogs de opinião, nas agências públicas de informações. Ah, mas essa é chapa branca, sim, é verdade, mas é de graça. Importante que deixemos claro uma coisa: a grande maioria das informações que se busca de forma “de grátis” dizem respeito ao esporte, cultura, tv e fofocas, então o bom e velho argumento de que a democratização da informação prejudica a democracia não passa de um mito urbano.

Importante falar também e assim sejamos claros: não é possível fazer internet free, sem conteúdo pago. Não dá. Se você está lendo coisas free é porque alguém pagou. Outro fato que é importante ressaltar, ontem você pagava o impresso, hoje acha abominável pagar o online.

Sim, poderia haver outras formar de monetização? Anúncios, por exemplo? Sim, claro. Mas eles são suficientes para garantir em uma ferramenta plural e democrática? Esse segmento seria suficiente para se manter um veículo realmente isento? Pouco provável. O impresso não conseguiu, o online certamente não conseguirá. Os grandes jornais do mundo já estão nas plataformas online e cobrando por essa leitura. Por que não?

Por um mundo sem links?
Sim, pode parecer contradição da minha parte, mas o caça links, nada mais é que o jornalismo transformado em publicidade: manchetes como:

– Técnico da Série A é demitido durante o jogo
– Mulher de político é pega no flagra

Não é jornalismo, é publicidade, clique, abra o meu site, veja o meu anúncio ou assine o meu jornal que eu te conto. Então, sim, por um mundo sem links. Não se pode cobrar literalmente sem entregar, literalmente o que se cobra.

Que comece o debate.

Sou jornalista e não entendo mais nada do mundo

NEoMpSjMlmNJss_2_bComo sabem, sou jornalista diplomado, isso faz diferença no preço do dólar, não. Mas faz diferença para que você entenda como pensa este humilde escriba. Aprendi a teoria das coisas, algumas aprendi também na prática, porém o que mais aprendi foi: Teoria e prática são inimigas mortais, não se gostam, não falam uma com a outra, falam mal pelas costas uma da outra e está formada a terceira guerra mundial se alguém as convida para a mesma mesa na hora do jantar.

Conversando com a Teoria descubro que jornalista de verdade não tem opinião pública, só privada. Mas conversando com a Prática ela me diz que jornalista que não se posiciona é covarde, e não fala com a massa crítica. Em uma conversa durante o café, a Teoria me diz que não posso de maneira nenhuma colocar nada no ar sem tentar ouvir o outra lado da notícia com toda imparcialidade e paciência para tentar entender o ponto de vista, já durante o chá a Prática me conta que isso não é o principal e nem de longe é o que devemos fazer, a ideia é mais ou menos assim: faz a tua matéria, edita e quando ela estiver pronta manda um email procurando saber o outro lado, azar do entrevistado se não der tempo de responder, a gente fez a nossa parte.

A moça Teoria é tinhosa e não se deixa levar pela claque fácil e nem pelo abraço pouco sincero das massas de manobras, já a moça Prática é mais esperta, ela faz as massas, é diferente. Uma diz que a lei, por exemplo, isso ou aquilo. A segunda diz que a lei precisa ser mudada. Uma é analítica, outra opinativa. Mas  a principal diferença entre a Teoria e a Prática é: a desculpa. Enquanto a Teoria faz de tudo para não errar, checa fontes diferentes, houve o outro lado se certifica de todos os pontos, a segunda faz de qualquer jeito e se por acaso errar, diz em uma nota de rodapé, em uma sonora antes do boa noite, erramos e o certo é isso. Pouco importa de na matéria principal você deu 3 páginas ou uma matéria de 5 minutos, pouco importa.

A bem da verdade, a teoria, não quero falar para ela para não faze-la perder ainda mais a serenidade, mas está condenada. Tem poucos amigos, seus filhos estão envelhecendo e aos poucos vão abandonando a mãe. Provavelmente não deixará saudades nem mesmo para aqueles que tem por ela o maior cuidado. Será lembrada, talvez no momento que alguém fizer a porcaria master, a latrina máxima, o erro sem solução, mas aí meus amigos, será absolutamente tarde demais.

Imparcialidade nas eleições #sqn

Como se dá a imparcialidade na cobertura das eleições? Acompanhamento isonômico de todos os candidatos, distribuição de espaços igualmente iguais. Mas será que estamos vendo isso?

Captura de Tela 2014-09-22 às 09.04.05Nesta imagem, por exemplo, Gazeta do Povo de hoje, em destaque, Beto Richa, o candidato a reeleição com um título que fala que os ministros mentiram, ou seja, ele falou a verdade e uma foto em que aparece em carro aberto. Force o olhar que você verá ali, ao lado esquerdo um quadrinho da candidata do PT, sem foto dizendo que ela  fez encontro com manifestantes, abaixo, o candidato do PMDB, que estava caminhando e passeando. Na foto olhando para baixo com uma postura derrotada.

Tenho alguns amigos trabalhando na Gazeta, e prefiro acreditar que tudo não passou de uma triste coincidência, repetida é verdade, mas ainda assim uma coincidência.  

Um repórter ameaçado de morte

Em 14 de julho, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, assinou uma matéria com o seguinte título: “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, de apenas quatro parágrafos, o jornalista denunciava que o coronel reformado da Polícia Militar Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, candidato a vereador em São Paulo pelo PSDB nas eleições do último domingo, usava sua página no Facebook para “veicular relatos de supostos confrontos com civis”, sempre chamando-os de “vagabundos”. Em reação à matéria, Telhada conclamou seus seguidores no Facebook a enviar mensagens ao jornal contra o repórter, a quem se referia como “notório defensor de bandidos”. A partir daquele momento, redes sociais, blogs e o site da Folha foram infestados por comentários contra Caramante, desde chamá-lo de “péssimo repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. Caramante seguiu trabalhando. No início de setembro, o tom subiu: as ameaças de morte ultrapassaram o território da internet e foram estendidas também à sua família.
O que aconteceu com o repórter e com o coronel é revelador – e nos obriga a refletir. Hoje, um dos mais respeitados jornalistas do país na área de segurança pública, funcionário de um dos maiores e mais influentes jornais do Brasil, no estado mais rico da nação, está escondido em outro país com sua família desde 12 de setembro para não morrer. Hoje, Coronel Telhada, que comandou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) até novembro de 2011, comemora a sua vitória nas eleições, ao tornar-se o quinto vereador mais votado, com 89.053 votos e o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo”.
O que isso significa?

Para ler a matéria completa acesse clicando aqui 

É chato, mas fazer o quê?

Dizem que os tempos modernos exigem mais do intelecto das pessoas, cada vez mais trabalhamos com a mente e menos com os braços. Dentro deste contexto, estar antenado com o que acontece no dia a dia torna-se tão primordial quanto o café da manhã ou o almoço. Mas qual é o limite?

Eu, por exemplo, diariamente ouço 9 horas de rádio de notícias enquanto trabalho, leio um jornal impresso, visito 6 sites de notícias, devo ler umas 20 matérias, leio duas revistas semanais e no mínimo um livro por mês, você acha isso muito ou pouco? Para muitos é exagero, para outros é muito pouco, conheço pessoas que consomem pelo menos o dobro disso, e aí a pergunta continua, qual é o limite?

Quando se habitua a ler e ouvir notícias, as coisas acabam se repetindo e você acaba sendo um vidente da opinião alheia. Sei antecipar tranquilamente qual é a opinião de Airton Cordeiro, Alvaro Borba, Fábio Campana e tantos outros. As notícias se repetem e apesar disso lembro nitidamente do dia que o avião da TAM caiu (ou não parou) em Congonhas.

Eu estava online até às 18h10, estava acompanhando sites de notícias até às 18h10. Fechei o computador e a redação, fui até o meu carro e me encaminhei para casa. Enfrentando o trânsito, fiz a música do cd de companhia, afinal, ninguém é de ferro. Cheguei em casa às 18h45, comi alguma coisa e sentei “a la” Homer Simpson na frente da tv para acompanhar uma besteira qualquer, quando o telefone toca me perguntando o que eu tinha achado do avião que caiu em Congonhas, seria culpa do caos aéreo? E a minha pergunta foi: “que avião?” E a resposta: “credo, está desinformado para um jornalista né?”

Foram menos de 40 minutos “desligado” e eu perdi algo tão importante que até hoje lembro e me motivei a escrever para vocês. Não consigo mais ouvir coisas sobre o Demóstenes, o estádio com dinheiro público, A Fazenda ou o Carrossel, é chato, mas fazer o quê? Ou se sabe, ou se faz papel de desinformado. Amaldiçoo até hoje aquele cd de músicas.

Com o tempo você acaba convivendo com a repetição esperando a novidade. Agora mesmo, pensei seriamente em desligar a CBN para ouvir qualquer coisa que poluísse meu cérebro com algo em que ele não fosse necessário, mas a culpa não me deixou fazê-lo.

Já diria o Leão da Montanha: “ó vida, ó céus!”

EM TEMPO: “Segundo o amigo jornalista Tramujas Junior, a frase se refere a  dupla Lipe e Hardy, “Leão da Montanha” dizia “Saída pela direita”. 

Senado aprova projeto para cercear imprensa

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em caráter terminativo, um projeto criado para constranger os veículos de comunicação: a proposta altera a tramitação dos pedidos de direito de resposta a órgãos de imprensa e atropela o trâmite natural dos processos. O projeto do senador Roberto Requião (PMDB-PR) estabelece que as pessoas que se sentirem prejudicadas por uma reportagem poderão procurar diretamente o veículo responsável pela matéria e exigir um espaço para apresentar sua versão dos fatos. Jornais, revistas, sites noticiosos, rádios e emissoras de televisão terão de publicar o direito de resposta até sete dias depois de comunicados da queixa. Caso contrário, a suposta vítima poderá acionar a Justiça. Os maiores beneficiários da proposta são justamente os políticos, alvo frequente de denúncias da imprensa fiscalizadora.

O trâmite judicial também será modificado pela nova lei. As ações do tipo transcorrerão em rito especial, o que significa uma celeridade muito maior na apreciação dos processos. Depois de ser acionado, o juiz responsável terá 24 horas para comunicar o órgão de imprensa. Por sua vez, o veículo deverá apresentar sua contestação em até três dias. Depois disso, se o magistrado optar pelo provimento do pedido, o direito de resposta deverá ser publicado em até dez dias. “Não se trata de cercear o direito fundamentel à informação. Não se trata de censurar a imprensa, porque a imprensa deve ser livre”, disse o relator da proposta, Pedro Taques (PDT-MT). Não é bem assim. Ao criar prazo exíguos, a medida permite que os meios de comunicação sejam pressionados por enxurradas de ações judiciais de forma orquestrada. A depender da forma como a lei for aplicada, o excesso de direitos de resposta poderá atravancar o trabalho da imprensa, que tem entre suas atribuições inalienáveis o exercício da crítica e da denúncia.

E poderia ser pior: o relator amenizou trechos insólitos da proposta original de Roberto Requião. O peemedebista queria, por exemplo, que as emissoras de rádio fossem obrigadas a dar, além do tempo proporcional do direito de resposta, dez minutos adicionais para o pronunciamento da pessoa atingida pela reportagem. No caso das emissoras de TV, seriam três minutos extras. O senador, inimigo declarado dos meios de comunicação, também previa que os veículos de imprensa simplesmente não pudessem ter direito ao efeito suspensivo em eventuais decisões da Justiça sobre direito de resposta. Pedro Taques alterou o dispositivo: o efeito suspensivo poderá ser concedido, desde que por uma decisão colegiada de magistrados.

A proposta foi aprovada por unanimidade na comissão. Se nenhum senador recorrer, o texto seguirá para a Câmara sem necessidade de aprovação em plenário.

Histórico – O senador Roberto Requião tem um longo histórico de ataques a imprensa. Quando governador do Paraná, ele usava a TV pública para veicular ataques quase diários a veículos que apontavam os problemas de sua gestão. O uso indevido da emissora levantou questionamentos do Ministério Público Estadual. No ano passado, o peemedebista deu mostras daquilo que entende por liberdade de imprensa: simplesmente arrancou um gravador das mãos de um repórter da Rádio Bandeirantes. O motivo: o parlamentar se irritara com uma pergunta a respeito da confortável aposentadoria que recebe como ex-governador. O senador também ameaçou agredir o jornalista. E só devolveu o gravador – sem o áudio da entrevista – horas depois.

Fonte: Revista Veja

Polêmico? Sim, mas vamos lá!

Você pode ou não falar tudo aquilo que pensa? Em teoria, pode. Mas não deve! Em Curitiba, por exemplo, houve pelo terceiro ano consecutivo a proibição da marcha da maconha, os idealizadores da marcha agora vão promover a marcha da Liberdade de Expressão. Tema espinhoso, mas vamos lá!

Drogas, tem gente que usa, tem gente que não usa. Tem gente que vicia, tem gente que não vicia. Recentemente o ex-presidente Fernando Henrique afirmou que era a favor da liberação. Liberdade de expressão? Sim. Proibir a marcha é contra a liberdade de expressão? Acho que sim também, mas vamos lá!

Drogas: somente as pessoas que já tiveram em suas famílias pessoas dependentes químicas podem opinar sobre o tema. Famílias e mais famílias destruídas pelo vício. Famílias que viram a maconha servir apenas de porta de entrada para o crack, cocaína e daí para crimes é um pulo. Qualquer tipo de propaganda das drogas deveria ser proibida, sim também, mas vamos lá!

Dizia minha mãe que de boas intenções o inferno pavimentou suas ruas. Não seria a proibição dessa marcha em nome de um bem maior um pouco dessa pavimentação? Ao abrir a exceção de uma marcha contra a maconha não estaríamos abrindo mão de outras “opiniões”? Hoje não se pode falar sobre a maconha, amanhã não se poderá protestar a favor ou contra a pena de morte, no outro dia quem sabe se proibirão as manifestações contra a corrupção.

Entendo como justa a preocupação da sociedade contra o uso indiscriminado das drogas. Entendo e concordo com o potencial destrutivo delas. Mas acredito ainda mais na justiça social e na educação das escolas e em casa como forma de combater as drogas do que formar simplistas de censura que incitam o proibido e afasta da mesa um debate sério sobre este e outros temas.

Hoje é Dia do Jornalista, e …

Hoje é dia do Jornalista, infelizmente não há muito o que comemorar. Primeiro porque a bestialidade chegou ao Rio de Janeiro. Um idiota, metido a entender o que não entendia, usando desculpas que não desculpavam matou alunos de uma escola, que , de errado, nada faziam, mas enfim, ele queria chamar a atenção. Conseguiu!

No dia do jornalista poderíamos falar sobre várias coisas, a falta da obrigatoriedade do diploma, a baixa qualidade do jornalismo atual, as muitas falhas, o achatamento dos salários, ou ainda pior, falarmos sobre o número exagerado de mortes de colegas no exercício da profissão.

Ser jornalista é, e sempre foi, um exercício de contar histórias, mas jornalistas, ao menos os bons, não se contentam com a fofoca, querem ver o fato In loco, querem passar a sua audiência com a informação com exatidão. Jornalista nunca está feliz, ele sempre busca o “mais” o lado escondido, aquilo que ninguém quer mostrar. Jornalista que é jornalista mesmo,  não se importa com a repercussão, se importa com a verdade da história.

Muitos de nós se vendeu ao “lado negro da força”, trocaram a vaidade, dinheiro pela verdade, outros conseguiram reconhecimento exatamente por serem verdadeiros. Escrevi minha primeira matéria com 13 anos,  publiquei meu primeiro jornal com 14, fiz meu primeiro programa de rádio com 16 e apresentei meu primeiro programa de televisão com 21. Fiz o que muitos, muito mais velhos ainda não conseguiram e disso me orgulho. Mas não me orgulho por ter apenas escrito, falado, comentado ou editado coisas verdadeiros, isso foi minha obrigação.

Morava na pequena Mandirituba, e na minha época (façamos de conta que isso mudou, o que não aconteceu) o sistema de transporte público era uma vergonha, ônibus lotados, licenças vencidas, pneus carecas e a passagem mais cara das cidades metropolitanas do Brasil, formavam um conjunto ideal para uma matéria, mas, por algum motivo que prefiro não entender, essa matéria nunca aconteceu.  Mas eu fiz. No colégio, lancei um jornal chamado “Contacto Imediato” e na segunda edição dei capa para a questão.

Fui censurado publicamente pelo prefeito em um programa de rádio, fui chamado no fórum da cidade pela empresa para me explicar, e tive que dar uma página de direito de reposta. Porém nas ruas fui cumprimentado, os professores me elogiaram, os próprios motoristas aprovaram a matéria. Naquele dia, descobri que estava no caminho certo, queria mesmo ser jornalista.

A grande verdade é que se excetuando os que trabalham em grandes veículos, jornalistas pouco podem fazer para o dia a dia da comunidade. Pouco podem  mudar a vida dos cidadãos. Mas, não  importa qual a audiência deste ou daquele veículo, o que importa é que a figura do jornalista representa sempre uma vigilância zelosa para o bem da comunidade.

 

Nada sobre vilipêndio

Vilipêndio, sempre achei esta palavra bacana e pensava escrever essa palavra em algum texto neste blog, não será desta vez, mas é bom que todos saibam que falarei sobre vilipêndios em algum momento.

Aliás qual é  necessariamente a liberdade que uma pessoa tem para falar algo? Para fazer algo? Ou quem sabe desenhar algo? Recentemente o cartunista Solda, foi acusado de racismo. Na charge que fez, mostra um macaquinho fazendo para banana. O macaco Segundo os  “intendidos” (com ï”mesmo) do assunto era Obama em sua visita ao Brasil.  Segundo Solda, nada mais é que uma referência a República das Bananas.

E realmente importa quem tem razão? Solda perdeu o emprego e ficou com pecha de racista, Paulo Henrique Amorin, ficou com o ar de “denunciei o racismo”e nós com caras de bobos. Bobos porque não pudemos ter a opinião sobre o caso, a maioria aceitou a opinião do renomado  “jornalista”que alias defendeu em uma palestra para o sindicato dos Jornalistas de Curitiba ser contra o diploma e disse mais, qualquer um pode ser jornalista lendo apenas 5 livros, mas esta é uma outra história.

A censura no Brasil é velada, ela existe desde áureos tempos, a própria corte comprou um jornalista que não fazia referëncias elogiosas a ela. No mundo manda-se matar mesmo. Aqui se manda embora e coloca-se um carimbo invisível na testa da pessoa em que diz ˜racista”.

No Brasil algumas coisas são proibidas:

–       falar mal de  índios

–       falar mal de negros

–       Falar bem de militares no tempo da ditadura

–      falar mal do bolsa família

–      falar bem do bolsa família

E por aí vamos… temos censura sim. Vamos ao extremo? Imaginemos que o cartunista em questão tivesse como intenção o racismo. Tem um veículo online que o publicou. Acreditamos nós que os ofendidos não teriam a capacidade de dar uma resposta a altura? Isso não é racismo? Outro dia li uma charge que falava do “Polaco da Barrerinha”, acho que me senti ofendido. No colégio, diziam:

Polaco da Nhãnha dá um peido sai castanha. Ofensa? Sim!

É evidente que não estou fazendo apologia ao racismo que é tão escroto que não conseguimos nominar. Não estamos também fazendo  alusão a luta de cor, as únicas cores que devem lutar são as da caixa de lapis de cor no seu penal.
Estou apenas defendendo que uma pessoa deve ter o direito de fazer o que bem entende, e que aos ofendidos servem os tribunais e as sentenças condenatórias. É verdade também que há muitos séculos negros de todo o mundo sofreram toda sorte de provações e humilhações, mas deram a volta por cima e provaram que são tão  bons quanto qualquer um.

Desenhos, palavras pouco representam perto da luta de um povo, que não deve ser unido por luta de classes ou cores, que não deve ser separado em cotas ou histórias de sofrimento. Deve sim ser unido em busca de um objetivo comum, a educação. Pessoas educadas fazem o certo simplesmente porque entendem que o certo pode lhes levar a um caminho melhor. Pessoas educadas sabem entender textos e charges de modo a não ver macacos onde só há apologias.

Por fim pessoas educadas nasceram para serem melhores que as outras. Eduquem suas crianças, não as deixem a sorte da internet ou de textos canastrões, e todo texto pode ser canastrão, inclusive este, tudo depende da educação que vocë tem para lê-los.

Mas, mais importante que tudo isto é que um dia, falarei sobre vilipêndio.

O choro da criança e o jornalismo

Entender as relações do jornalismo com sua audiência e a relação dos programas populares com sua audiência faz parte de coisas inexplicáveis, assim como se perguntar o que nasceu antes , o ovo ou a galinha.

Um dos principais ensinamentos das faculdades de jornalismo é a isenção. Diversos teóricos são citados, textos são estudados para tentar fazer com que o acadêmico entenda: a isenção é a receita para um jornalismo ético.

Porém, desde cedo  todos aprendemos que a isenção não existe, ainda mais em tempos nebulosos de censura como vivemos hoje. E a pergunta é: qual o limite disso? Havia uma professora de sociologia (que Deus quis levar junto dele para que ela explicasse melhor a ele suas teorias, afinal Deus é Deus e ele tem lá sua vantagens)chamada Yeda que dizia o seguinte:

– No jornalismo sério você tem que ter a capacidade de ver o seu melhor amigo de infância, aquele que você considera como irmão, ser objeto de uma investigação e por mais que os fatos não lhe sejam favoráveis, você deixar tudo isso de lado e fazer uma matéria isenta.

A pergunta é: é possível?

Não sei é a minha resposta, pouco provável é a minha reflexão, impossível é a realidade. Um exemplo disso aconteceu pessoalmente comigo hoje pela manhã. Perto das 08h, zapeando entre o jornalismo certinho da Globo e o mundo cão da Band fui pego com uma logo de exclusivo no canto superior da tela, uma imagem cheia de efeitos mostrando vários policiais invadindo uma casa.

Ao entrarem gritando “polícia!”, vi um homem de cuecas brancas sendo retirado a força da cama e em seguida sendo algemado, abaixo dele, uma criança, sua filha, chorando desesperada pedindo o colo do pai. Uma cena forte que se repetiu durante a matéria. A mulher do cidadão tentava em vão consolar a filha enquanto dizia que “agora” o rapaz era honesto e apresentava a carteira de trabalho.

A discussão não é essa. Para efeito de curiosidade dos nobres leitores, o homem era um jovem que fora preso por assalto a mão armada e quando soube da morte da mãe fugiu da Penitenciária de Piraquara e para lá não pretendia voltar. Arrumou emprego, voltou a morar com a mulher e com a filha que o tinha como “pai”.

Era mesmo necessário ter mostrado essa cena? A audiência do programa não ficaria satisfeita em ver a polícia (que aliás somente cumpriu o seu papel e não teve culpa nenhuma nisso) entrando na casa e depois saindo com o preso? Não teria poupado o apresentador (que aliás é um ótimo showman) do constrangimento de tentar explicar o choro daquela criança, bradando que o individuo era bandido e que nós telespectadores passivos não devíamos ficar com dó dele?
Entender a distância da censura a imprensa aos excessos da imprensa, faz parte de uma discussão ampla que me reservo o direito de defender a liberdade em todos os sentidos, porém, me coloquei no lugar daquela criança, que poderia ter sido a minha a filha, que não tinha culpa dos erros do pai, mas ainda assim foi exposta ao trauma de ver o seu herói algemado e ao choro desconsolado da impotência.
Que vida triste temos nós, que deixamos passar coisas como estas enquadrando-as no balaio do “normal”.

Por isso é doce a democracia…ou não?

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=CWtmOwHgTDA]  Afinal o que é preciso para se ter um programa de tv, principalmente a cabo? Pagar, óbvio, aliás nada mais óbvio. O que é preciso quando se é um aluno de jornalismo? Escrever, óbvio, aliás nada mais óbvio. E o que é preciso para se causar polêmica por um texto extremamente leve, crítico? Um apresentador bonachão que paga horário na televisão e um estudante que não tem microfone para se defender…ah, claro, uma platéia cega é importante também.

Na verdade ão entendi muito bem o que aconteceu, será que o tal de Zeca (que aliás queiram ou não os jornalistas “que nunca fizeram nada para o Brasil” é um fenômeno de audiência na capital dos campos gerais) estava tendo um mau dia? Porque não posso crer que ele nunca houvera sido criticado anteriormente, se isso aconteceu, me rendo e ajudo a “bater de chicote na bunda do Leonardo”.

Por que aquela critica o incomodou tanto? O dia estava fraco? Poucas mortes nos Vt’s? A audiência exigia alguma polêmica? Ou realmente o Zeca estava chateado que a “G” não o convidara para um ensaio e ele precisa de um motivo para mostrar a sua “barriguinha” sexy?

De todo esse episódio, o Zeca ganhou…pense bem…você já tinha ouvido falar do Zeca antes disso? Você ao menos sabia que existia a tv Vila Velha de Ponta Grossa? Para os mais distantes…sabiam que existia Ponta Grossa? Zeca agora espera ansioso para ver se ele enfim estará ou não no Top Five do CQC, o aluno que escreveu a critica, além de ter que negar que a sua mãe tem atos pouco educados a noite e o pai não é caminhoneiro, deve se sair bem daqui para a frente, não deve arrumar emprego na Vila Velha, ao menos é o que eu espero de uma pessoa que critica um apresentador conhecido como Zeca Diabo.

Quem quiser ler o texto que despertou a ira do “diabo” clique aqui

O AI5 voltou? Não, ele foi reformulado e está ainda pior

Faz algum tempo que escrevi aqui sobre a censura, ou foi em algum outro espaço sem muita audiência já que nem eu lembro, e sim meus queridos, a censura voltou, está confirmado. Como? Por quê?

Simples, mas antes precisamos definir cada coisa: censura é aquilo  que se faz sem muito alarde, você diz que não pode por motivo X ou Y e fica nisso,não pode e acabou, pode espernear, pode gritar, mas não pode fazer o que te proibi, isso em letras cruas é censura.

No AI5 sob o frágil argumento de manter a “revolução” de 64, foi colocado em prática, mas na prática mesmo o AI 5 servia para tirar direitos, dar superpoderes aos militares e evitar de forma zelosa qualquer coisa que depusesse contra o então estado de direito. Nas formas mais “democráticas” do AI5, a matéria saia, o governo não concordava, os responsáveis pela matéria eram demitidos e pronto. Pronto? Mais ou menos, não entraremos aqui no mérito de Vladimir Herzog, o jornalista que morreu em uma cela do Dops, empregado, ganhava bem, pai de família, vida estruturada e com uma respeitável vida profissional que após um depoimento… o regime militar jura que o jornalista teve a “brilhante” ideia do suicídio. Falemos de algo mais simples, censura é censura, ela não é boa nunca.

Sabem qual é, na opinião desse modesto e alienado pela história jornalista, a diferença entre o AI5 e o atual estado de censura? No AI5 os militares censuravam e tinham uma “justificativa” e negavam veementemente a censura, hoje censura-se pelo simples modismo de censurar, censura-se pelo ego, censura-se pelo achismo e não há a menor preocupação de se esconder essa censura, então, sim, estamos em um estado de censura!

Casos como o de Fernando Sarney, a matéria do Cabrini que não pode ir ao ar, a matéria do CQC de ontem sobre uma televisão que foi doada para a escola e era usada na casa da diretora, o blog do Pannuzzio, a criança da novela que não pode fazer papel X ou Y, a novela que não pode mostrar tal cena em tal horário, o prefeito Beto Richa irritadinho por conta de uma pergunta do repórter e em um momento Requião esbraveja contra a imprensa, tudo isso é CENSURA, admitida ou não, é censura.

Qual é o modelo certo? Ora queridos, todos sabem o modelo, as instituições de direito estão aí, se sentiu ofendido por algo dito? Justiça neles! Achou que uma matéria foi tendenciosa e quer direito de resposta? Justiça neles! Agora, ir a justiça antes do material ir ao ar, é covarde,imbecil e é Censura!

As recentes declarações de líderes petistas preocupam a liberdade de imprensa, mas a censura vem sendo praticada há anos e criticá-las politicamente é uma questão de oportunidade. Precisamos amadurecer, temos que entender que em um estado de direito democrático como pseudamente vivemos temos o direto de expor nossas opiniões sobre tudo, sobre todos e sobre quaisquer coisas, falou besbeira? Mentiu? A justiça e a sociedade que tratem de julgá-lo.

Afinal, eu ainda quero poder escrever este mal escrito texto no futuro sem ter que primeiro mandar um e-mail para um censor qualquer aprová-lo ou não.

Campanha resgata Landell de Moura, o brasileiro que inventou o rádio

Poucos devem saber que o inventor do rádio foi um padre brasileiro, cientista e inventor de protótipos da televisão, aparelhos de telefone e telégrafo sem fio. Para reconhecer o trabalho do padre Roberto Landell de Moura, que fez a primeira transmissão pública da voz humana por ondas eletromagnéticas, jornalistas e outros profissionais lançaram o Movimento Landell de Moura (MLM).

Na memória de muitos, o pai do rádio foi o italiano Guglielmo Marconi. Na realidade, Landell fez sua transmissão muito antes de Marconi, do croata naturalizado norte americano Nikola Tesla e do canadense Reginald Aubrey Fessenden, reconhecidos por suas invenções.

Primeira transmissão

O primeiro a dar o “furo” da criação de Landell, foi o jornal O Estado de S. Paulo, que apesar de anunciar a data da transmissão, 16 de julho de 1899, não cobriu o evento. Poucos meses após outra demonstração pública de seu invento, realizada na avenida Paulista e no Morro de Santana, Landell patenteou a criação, em março de 1901. A demonstração do invento foi publicada pelo Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro.

Na época, o padre gaúcho foi reconhecido até mesmo pela imprensa estrangeira, no jornal New York Herald, que em 12 de outubro de 1902, publicou uma reportagem sobre as experiências de Landell.

Mesmo com sua invenção para o mundo das comunicações, o cientista não foi entendido. “As pessoas não compreenderam o que ele fez, não se interessaram em patrocinar, além do fato de ele ser um padre cientista, o que não era comum”, conta o jornalista e escritor Hamilton Almeida, que estuda há mais de 30 anos a vida de Landell de Moura.

Outras criações

Esquecido pelo tempo e pelos brasileiros, Landell de Moura partiu para os Estados Unidos, onde morou três anos, e conseguiu patentear, em 1904, três aparelhos, o wave transmitter (transmissor de ondas), wireless telephone (telefone sem fio) e wireless telegraph (telégrafo sem fio).

Além disso, o cientista projetou a TV, o teletipo e o controle remoto por rádio e anteviu que as ondas curtas poderiam aumentar a distância das transmissões. Todos esses feitos antes de outros cientistas.

As invenções lhe causaram aborrecimentos no Brasil. Muitos o tacharam de maluco que tinha feito um pacto com o demônio. “Os fiéis chegaram a destruir os aparelhos dele, porque era uma coisa sem fio, achavam que ele conversava com o diabo”, conta Almeida.

O jornalista, estudioso da vida de Landell de Moura, é autor de vários livros sobre o cientista, como “O outro lado das telecomunicações – A saga do Padre Landell” (Editora Sulina, 1983); “Landell de Moura” (Editora Tchê/RBS, 1984); “Pater und Wissenschaftler” (Debras Verlag, Alemanha, 2004); e “Padre Landell de Moura: um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo…” (Editora Record, 2006).

Movimento

Para reconhecer o trabalho do cientista e comemorar os 150 anos de nascimento do criador do rádio, Almeida, com o apoio dos radioamadores Alda Niemeyer e Daniel Figueredo, e do professor de matemática e especialista em eletrônica industrial Luiz Netto, criou o MLM. A iniciativa também tem o apoio do Jornalistas&Cia.

No site do movimento, além da biografia de Landell, há um abaixo-assinado para que as autoridades brasileiras reconheçam o cientista como inventor do rádio. Além do português, a página tem versões em inglês, espanhol e alemão. O objetivo é atingir um milhão de assinaturas até o dia 21/01/2011, quando completam-se 150 anos do nascimento do criador do rádio e de outras invenções da telecomunicação.

Este blog apóia a iniciativa

Fonte: Comunique-se

Justiça rejeita queixa-crime de Arlindo Chinaglia contra o jornalista Arnaldo Jabor

A 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo rejeitou queixa-crime do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra o jornalista Arnaldo Jabor, por declarações feitas na rádio CBN, em 2007.

Na época, quando o congressista era presidente da Câmara, Jabor comentou dados divulgados pelo jornal O Estado de S.Paulo, de que deputados teriam dispensado mais de R$ 11 milhões com gasolina nos primeiros meses do mesmo ano.

Segundo o juiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, não houve ofensas diretas do comentarista em relação aos deputados. No entendimento do magistrado, o objetivo de Jabor foi informar sobre o fato, de “maneira jocosa e aguda que lhe é peculiar e pode ser observada na maioria de seus comentários”.

Em uma das frases responsáveis pela representação, Jabor diza:

“Todos sabemos que nossos queridos deputados têm o direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina, seja indo para seus redutos eleitorais ou indo para o motel com suas amantes e seus amantes”.

Para o juiz, o comentário se absteve de citar nomes, não podendo ser tomado como ofensa contra o deputado. “Trata-se de uma forma de chamar a atenção para o fato de que o reembolso ocorre onde quer que o gasto tenha sido feito, apenas isso”.

Outro trecho do comentário analisado pela Justiça cita o nome do deputado, na época presidente da Casa.

“Será que o senhor Arlindo Chinaglia não vê isso ou só continua pensando no bem do PT? Quando é que vão prender esses canalhas?”.

Na avaliação do juiz, o petista foi mencionado à época devido ao cargo que ocupava – como responsável pela fiscalização parlamentar – e o termo “canalha” não fez referência direta a nenhum deputado. A informação é do site Conjur.

Fonte: Comunique-se

Vejam se concordam…

Para começar 2010, votos de um ano de grande sucesso para todos.  Queridos poucos leitores, a este post do blog do brilhante jornalista Fábio Pannuzio, fiz o comentário a seguir, por favor leiam primeiro o que o Pannuzio escreveu, após meu comentário, e como diz o título, vejam se concordam….

Olha Fábio, concordo com a sua repúdia  em relação a estes comentários, agora vamos TODOS devagar com o “andor”.
São hipócritas, incluindo eu e vc, aqueles que negam que em sua intimidade fizeram comentários totalmente “imbecis” e totalmente “contrários” com aquilo que realmente pensam. Bóris falou porcaria e seja em que contexto tenha sido não deveria ter ido ao ar, mas quem tem tantos anos de jornalismos deveria ter se acostumado a tal.
Então, na minha humilde opínião estão errados Bóris pelo que falou, o editor de som da tv pelo que não cortou, você por defender o indefensável, e evidentemente os “ignorantes (para mantermo-nos nos termos mais civilizados)” que colocaram comentários racistas, facistas ou nazistas e preconceituosos em relação a este fato.
Não gosto,(novamente apelo para a contenda de minha humilde opinião), quando você critica os editores que liberaram tais comentários, justamente vindo de uma pessoa que sofre com a censura como você?! Quer dizer que pode ir ao ar aquilo que você acha correto? Enfatizo novamente a minha repúdia quanto ao que foi dito, agora, censurar um editor que não censurou se vale do exagero e se utiliza das mesmas ferramentas de censura que tanto critica.
Reiterando minha admiração por seu trabalho! Agradeço.

Internet vs. Mídia tradicional: mudança sem retorno

Pesquisa revela que 83% dos consumidores de mídia no Brasil produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede.

De Venício Lima no Agência Carta Maior

Duas pesquisas divulgadas recentemente mostram, de forma inequívoca, a dimensão das mudanças que estão ocorrendo no “consumo” de mídia, tanto no Brasil como no mundo. Elas são tão rápidas e com implicações tão profundas que, às vezes, provocam reações inconformadas de empresários e/ou autoridades que revelam sérias dificuldades para compreender ou aceitar o que de fato está acontecendo no setor de comunicações.

Internet supera TV

A primeira dessas pesquisas é “O Futuro da Mídia” desenvolvida pela Deloitte e pelo Harrison Group. A Deloitte é a marca sob a qual profissionais que atuam em diferentes firmas em todo o mundo colaboram para oferecer serviços de auditoria e consultoria. Essas firmas são membros da Deloitte Touche Tohmatsu, uma verein (associação) estabelecida na Suíça. Já o Harrison Group é uma consultoria independente com sede nos EUA.

A pesquisa, realizada simultaneamente nos EUA, na Alemanha, na Inglaterra, no Japão e no Brasil, identificou como pessoas entre 14 e 75 anos “consomem” mídia hoje e o que esperam da mídia no futuro. A coleta de dados foi feita entre 17 de setembro e 20 de outubro de 2008 e a amostra foi dividida em quatro grupos de faixas etárias: a “Geração Y”, com idade entre 14 e 25 anos; a “Geração X”, que tem entre 26 e 42 anos; a “Geração Baby Boom”, formada por pessoas entre 43 e 61 anos; e a “Geração Madura”, que compreende os consumidores entre 62 e 75 anos. No Brasil, foram ouvidas 1.022 pessoas, classificadas nas quatro faixas etárias.

Vale a pena transcrever o que a própria Deloitte relata sobre alguns dos resultados referentes ao Brasil (cf. Deloitte, Mundo Corporativo n. 24, abril/junho 2009).

O levantamento mostra que o Brasil, com um mercado formado essencialmente por um público jovem é, dos cinco países participantes da pesquisa, aquele em que os consumidores gastam mais tempo por semana consumindo informações ofertadas pelos mais variados meios de comunicação e se mostram especialmente envolvidos com atividades on-line. Os consumidores brasileiros gastam 82 horas por semana interagindo com diversos tipos de mídia, incluindo o celular. Para a grande maioria (81%), o computador superou a televisão como fonte de entretenimento. Os videogames e os jogos de computador constituem importantes formas de diversão para 58% dos entrevistados. (…) (grifo nosso)

Uma das principais informações reveladas é que o usuário quer participar, interferir. De acordo com as entrevistas realizadas com o público nacional, 83% dos consumidores de mídia produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede. Quanto mais jovem, mais propenso a produzir seu próprio conteúdo on-line.

Um dado extremamente revelador é que assistir à televisão é a fonte de entretenimento preferida pelos entrevistados de todos os países participantes da pesquisa, com exceção do Brasil. Entre nós, a TV aparece em terceiro lugar, as revistas em sétimo, o rádio em nono e os jornais em décimo.

O quadro (adaptado) abaixo revela as preferências brasileiras.

Fontes de entretenimento favoritas – Brasil

1º – Assistir a filmes em casa (não inclui filmes na TV) ………55 %

2º – Navegar na internet por interesses pessoais ou sociais..53 %

3º – Assistir à televisão …………………………………………………46 %

4º – Ouvir música (usando qualquer dispositivo ………………..36 %

5º – Ir ao cinema ………………………………………………………..30 %

6º – Ler livros (impressos ou on-line) ……………………………..25 %

7º – Ler revistas (impressas ou on-line) ………………………….16 %

8º – Jogar videogames ou jogos de computador ……………..14 %

9º – Ouvir rádio ……………………………………………………………13 %

10º – Ler jornais (impressos ou on-line) ………………………….12 %

Para um país acostumado – há décadas – à hegemonia não só da televisão, mas de uma única rede de TV, esses dados não deixam de ser surpreendentes.

Participação ativa

Já a vontade majoritária de participar e interferir na construção do conteúdo, revelada pelos entrevistados brasileiros, acaba de vez com a idéia do obtuso “Homer Simpson” (cf. L. Leal Filho, “De Bonner para Homer”, Carta Capital, 7/12/2005) e com o mito da passividade dos nossos leitores, ouvintes e telespectadores.

Mais do que isso, os dados colidem frontalmente com as práticas históricas dos principais grupos de mídia brasileiros que, salvo raras exceções, sequer admitem a existência de ouvidorias ou de ombudsman em suas empresas.

A supremacia das redes sociais

A pesquisa Deloitte/Harrison faz referencia a outra pesquisa divulgada em junho de 2008 pelo Ibope/Net Ratings sobre o surgimento das “redes sociais virtuais”, ou seja, os sites de relacionamento que reúnem internautas com os mesmos interesses. Segundo esta pesquisa, 18,5 milhões de pessoas haviam navegado neste tipo de site em maio de 2008. Se somados os fotologs, videologs e programas de mensagens instantâneas, o número salta para 20,6 milhões.

Pois bem. No painel de abertura do 8º Tela Viva Móvel, dia 20/5, em São Paulo, o gerente de conteúdo e aplicações da Oi, Gustavo Alvim, informa que as redes sociais já desempenham papel mais importante que o acesso a emails no cenário da internet mundial. Em média, enquanto 65,1% dos usuários mundiais de internet acessam emails, 66,8% acessam redes sociais. “E o Brasil é o líder absoluto em redes sociais, com 85% de seus internautas que acessam pelo menos uma rede social”.

Os dados vêm confirmar a aplicabilidade da hipótese do “long tail” (Chris Anderson) à “cultura convergente” – como faz Henry Jenkins – e, particularmente, reafirmar a tendência já prevalente da contextualização, análise e organização capilar de conteúdos, inclusive os jornalísticos, em sites e blogs, deixando para trás os velhos modelos dos jornais impressos diários.

“Pendurados na internet”

Diante desses dados – e das importantes transformações que sinalizam – é que se deve compreender a recente declaração do senhor ministro das Comunicações na abertura do 25º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, no dia 19/5, em Brasília.

Segundo relata Mariana Mazza do Televiva News, depois de fazer uma vigorosa defesa da radiodifusão e registrar o abismo entre o faturamento da radiodifusão e das telecomunicações – “o setor de comunicação fatura R$ 110 bilhões por ano. Desse total, somente R$ 1 bilhão é do rádio e R$ 12 bilhões das TVs. O resto vocês sabem muito bem onde está” –, o ministro sugeriu que os jovens devem usar menos a internet e assistir mais programas de TV e de rádio. “Essa juventude tem que parar de só ficar pendurada na internet. Tem que assistir mais rádio e televisão”.

Ao que parece o senhor ministro – e os radiodifusores que ele tão bem representa – estão realmente perdendo o “bonde da história”.

é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília – NEMP – UNB