Qual é a cor do mundo? Parte 1

Luiza acordava sempre com uma sensação estranha. Pouco lembrava dos sonhos que tinha, mas sabia que sonhava, era estranho.

Vez ou outra sentia o calor, o frio, os medos que os sonhos lhe proporcionavam. Assim como sua mãe, era vidrada em astrologia, significado dos sonhos, sonhar com cobra, traição, sonho de sexta para sábado, acontecia de verdade. Sonhos de quinta para sexta, acontecia ao contrário.

Tudo isso Luiza acompanhava com curiosidade, mas o que ela não entendia era a alegria ou a tristeza intensa com que acordava em algumas manhãs. Não tinha um significado, na maioria das vezes nem lembrava do que tinha sonhado, mas os sentimentos eram intensos.

A partir dos 25 anos aquilo começou a tomar tal proporção que começou a refletir na sua vida real.

Vida real?

O que é vida real se perguntava Luiza.

Antes, tinha uma promissora carreira na área de medicina. Queria ser pediatra, depois, ainda mais interessada nos sonhos, voltou seus interesses para a psiquiatria.

Ela precisava de uma psiquiatra, pensava.

Um dia qualquer, como qualquer outro dia que amanhecia, tinha sol, ela acordou, mas algo tinha mudado, ou melhor, nada tinha mudado. Era estranho.

Não, nada tinha mudado.
Mas, tinha que ter mudado.
Ela ainda estava no sonho.

Ficou confusa. Pensou ainda que sonhava estar sonhando. Lembra da sensação de confusão se formando em sua mente.

A mãe lhe dá bom dia.
Ela responde.

Mas, como?
Sua mãe tinha morrido quando tinha 14. Acidente horrível. Sofreu.
Ela estava sonhando. Confirmado.

A mãe lhe dá um beijo e pergunta como fora no outro mundo.
Silêncio.

Outro mundo?

A mãe sorri, achava que era uma piada da filha.
Não era.

Luiza estava perdida.
Afinal de contas, o que estava acontecendo?

Lembrou do Pica Pau, aquele do desenho.
Em um episódio, ele sofria com fome, não podia sair, nevava.
Por que diabos ela estava lembrando do pica-pau?
Um dia, Pica Pau vê uma mesa farta a sua frente.
Se belisca.
Acorda.
A mesa se foi.

É isso.
Se belisca.
Dói.
Então…
Então não estava sonhando.

Mas o que era aquilo?
Estivera sonhando a vida que achava estar vivendo?
A mãe lhe pergunta se está tudo bem?
Se não estava exagerando na dose.

Dose?

Será que bebia muito? Ela pensa.
Um som rompe a imersão de seus pensamentos.

Não conhecia o som.
A mãe começa a falar sozinha.

Luiz observa.

Novo barulho, esse mais próximo.
A mãe pergunta se ela não vai responder.
Estranha.

O que está acontecendo?
Suas mãos agarram seus próprios cabelos como se a dor da puxada fosse lhe trazer as informações que o cérebro negava.
Nada.

A mãe olha com uma cara de preocupação.
Tudo bem? Ela pergunta.
Luiza não responde.
Não, não estava tudo bem. Mas a mãe estava ali, viva, então, sim, estava tudo bem.
Confusão.

Qual o próximo passo.
Abre a boca.
Fala “Te amo”.

A mãe ri.
Está ficando muito tempo no outro mundo, retruca.

“Outro mundo?”
Que porra de outro mundo é esse?

O Início da Guerra Contra a Lua – Parte 2

2789 será lembrado pela história interplanetária por muita coisa, mas não pela escassez de acontecimentos, havia guerras em todos os cantos, era raça querendo dizimar raça, outros querendo se aprimorar e por aí vai, mas do lado terráqueo algo incomodava mais: a sucessão de acontecimentos. A guerra travada contra Marte havia levado milhões de vidas embora, vidas úteis para um planeta em busca de gente, de mão de obra, mas também consumira recursos financeiros e naturais.

Ok, agora a Terra voltava a ser dona de Marte, mas fazer o que com aquilo. Parecia uma vitória meio sem sentido, eram só mais gastos pela frente. Logo haveria mais revolta, afinal, para garantir que nada daquilo voltasse acontecer, ninguém admitia publicamente, mas o plano era deixar o planeta morrer sozinho e com ele, seus moradores.

Lenan Stuart era o chamado “novo marciano”, nascera na Terra mas com apenas dois anos fora descolocado junto com seus pais e sua irmã Diana para o promissor planeta. Há 93 anos os governos enxergavam Marte como um oasis, um posto de recebimento de mercadorias de vários pontos do Universo, já pensavam em como cobrar por passagem, abastecimento, impostos, só esqueceram, como dizia o antigo povo Pruro, de combinar com os russos.

Absolutamente ninguém parava ali e manter aquela estrutura começou a custar muito caro. Ok, graças as novas tecnologias, apenas 24horas de viagem seriam suficientes para ir de um ponto a outro, mas energia plutônica não se encontrava em qualquer esquina, era literalmente necessário trazer de Plutão.

Nesse contexto Lenan foi criado em um mundo de mágoas. Seus habitantes se queixavam que tinham vindo para o planeta vermelho em busca do sonho de enriquecimento, de uma vida tranquila, mas agora, tudo o que encontram era abandono e humilhação. Ora a comida que não chegava, ora peças para o conserto do gerador, ou ainda os intermináveis discursos daqueles humanos poderosos sobre como “o povo de Marte era importante para a causa”.

Lenan era daqueles seres que nascem diferentes, parecem que já viveram umas mil vidas tamanha a facilidade para aprender. Com o passar dos anos, Lenan se tornou um jovem marciano brilhante, com uma mente afiada e uma habilidade incrível para solucionar problemas complexos. Ele passou a dedicar todo o seu tempo livre a estudar e pesquisar formas de melhorar a vida no planeta, e acabou se tornando um líder entre os marcianos.

Certa vez, durante uma reunião com os líderes terráqueos, Lenan apresentou uma proposta ousada: em vez de abandonar Marte, por que não investir em tecnologias e infraestrutura para transformá-lo em um planeta habitável e próspero? A ideia foi recebida com ceticismo, mas Lenan não desistiu.

Ele passou anos trabalhando em sua visão, e finalmente, com a ajuda de outros marcianos e alguns aliados terráqueos, conseguiu colocá-la em prática. Investimentos em energia solar e eólica, construção de estações de cultivo hidropônico, e avanços em tecnologia de purificação de ar e água transformaram Marte em um lugar viável para a vida humana.

E se eu tenho um lugar viável para viver, quem precisa do seus antigos “patrões”, então, em 2765, o comunicado mensal do Presidente da Nova Terra, General August Jimmé simplesmente foi ignorado. Nenhum único aparelho captou o sinal. Marte não precisava mais da Terra… isso não ficaria assim. Lenan sabia que aquele único ato de rebeldia seria extremamente mal visto por Jimmé, só não esperava o que viria a seguir: guerra.

Em um dia como qualquer outro, no ano de 2766, o sol brilhava como sempre, as pessoas conversavam como sempre e então se ouviu o estampido que não poderia ser esquecido. A guerra não declarada havia começado. Os planos eram claros. A retomada do poder em Marte, a destituição de Lenan e sua prisão, além do sequestro de toda tecnologia marciana. Ela voltaria a ser o que sempre fora: um local isolado pertencente aos humanos, nada além disso.

Continua…

O Início da Guerra Contra a Lua – Parte 1

Julius Stranger: o dono do mundo – Temporada Final – Ep3

Já havia 30 dias que chovia dinheiro.
Um dólar, agora, sem valor. Governos por todo o mundo organizaram equipes que divididas juntavam e queimavam a grana como podiam. Movimentos ecológicos até tentaram protestar no começo, afinal a fumaça das fogueiras, as cinzas tomavam as cidades, mas, na falta de ideia melhor, ou capacidade em reciclar tudo aquilo desistiram.

Július já não parecia um ser humano, tomado pelo horror do fizera, virava noites tentando acabar com tudo aquilo. Não tinha coragem de tentar mandar outra mensagem. Pensou em mandar um simples “pare” ou “não faça!”, mas a variável de consequência era tão absurda que desistiu.

Tentava revirar o passado em busca do momento exato em que tudo deu errado, mas, sem saber para onde olhar, estava perdido. Era tempo demais para ver. Estava, talvez pela primeira vez, perdido. Conforme prometera depois de sua “quase prisão”, manteve contato com o Presidente, mas mentiu, disse não saber o que estava acontecendo.

Afinal, ele mesmo fez aquilo?
Não conseguia entender como.
Parecia um pesadelo do qual não conseguia sair.
Continuaria a trabalhar, interrogando. Já até pensava em inventar uma máquina do tempo, chegou a tentar em um daqueles momentos em que se está tão cansado que o desespero domina as ações, mas, desistiu, ou caiu de cansaço, não lembra.

_______________________________________

Depois do sumiço de Cameron, a vida de Linda virou de cabeça para baixo. Via-se cercada por fantasmas, e não, não é figura de linguagem, ela literalmente ouvia sussurros de Cameron. Talvez fosse a menta aturdida, talvez fosse o arrependimento.

O fato, porém é que estava presa, sem perspectiva de uma sentença ou direito a defesa. O projeto era secreto, ela sabia disso quando entrou, então, oficialmente, nunca existiu. Se nunca existiu, como ela poderia ser condenada ou inocentada de algo? O governo pensava diferente. Então, até sabe Deus quando, ela estava condenada, talvez para sempre.

O sussurro em sua cabeça só dizia:
– Quero voltar. nada mais.
– Quero voltar.

Linda sempre foi inteligente e sabia que as pessoas não desapareciam simplesmente, Há motivos, há pistas pelo caminho, um caminho a ser seguido, mas esse não era o caso. Ela teria desafiado as leis da própria física. Sabia que as luzes vistas no final eram reminiscências da quarta-dimensão, era exatamente o que ela esperava que acontecesse, de certo modo, o experimento foi um sucesso, mas o desaparecimento de Cameron não fazia sentido. A física impedia o transporte de massa entre dimensões, estava completamente perdida.

Passos.
Passos mais próximos.
A porta se abre. Samus entra.

– Dra. Harrison?
– Se veio até aqui sabe que sou eu.
– Quero falar com você sobre o Book Back
– Já falei tudo que sabia para os abutres, não tenho mais nada.
– Li seu depoimento e algo faltou.
– O que é, mas seja rápido, tenho salão às 4.
– Você disse aos investigadores que esperava que aparições de outra dimensão fossem visíveis naquele momento, e que por isso não ficou impressionada com as luzes, isso está correto?
– Sim, sem novidades.
– Mas, de onde vieram as luzes, a ideia era criá-las ou reproduzi-las?
– Ora, virei Deus agora? Nem uma coisa, nem outra, o objetivo era espelhar.
– Não entendi.
– Quem é você mesmo?
– Samus Davidson, Engenheiro Senior da Nasa e sua melhor chance de sair daqui.

“Sair daqui?” Linda pensou. Será que haveria então uma chance. Eles deviam estar muito ferrados para procurá-la. Talvez fosse uma boa ideia colaborar, mas não muito.

– Em um microscópio, o que vemos? Coisas que sempre estiveram ali mas nosso olho não alcança, não criamos nada, simplesmente passamos a ver. Com meu experimento é o mesmo. As luzes que o senhor se refere estão aqui nesse momento e em todos os lugares, assim como milhares de outras coisas que não tive oportunidade de ver, mas estão lá, só é preciso a energia certa, o modo certo para fazê-los aparecer.
– Entendo. Seria possível massa passar entre dimensões?
– Sempre teorizei que não, mas como sabemos, ou Cameron junto com cada célula do corpo e do uniforme que vestia foi evaporado por uma força que desconhecemos, ou ele está nesse momento em outra dimensão, que aliás, de vez em quando, consigo ouvi-lo, mas nesse ponto, pode ser minha imaginação, posso estar ficando louca.

Samus analisa Linda. Pode ser a genialidade em pessoa. Pode estar realmente louca, mas o fato é que ele não pode discutir em pé de igualdade com ela, não faz ideia de como ela fez o que fez.

– A senhora tem interesse de sair dessa cela e voltar para o trabalho?
– É tudo o que mais quero. Mas, qual é o caso, posso saber?
– Saberá tudo em breve, vou providenciar sua saída.

A porta se fechou, Samus saiu e Linda ficou sozinha com seus pensamentos. O que poderia estar acontecendo a ponto “Deles” recorrerem a ela. Sabia que era esperta, mas comandava um projeto menor, algo que os grandões não entendiam e não davam valor e agora, isso.

Mais tarde naquele dia, ela andava pelos corredores e olhares julgadores dos demais. Podia quase ouvir os pensamentos:

– Assassina!

Não se importava, nunca se importou, sempre enfrentou barreiras para chegar até ali, homens fizeram muito mais do que ela e eram reconhecidos por muito menos, direita, esquerda, reto. Queria correr, ver a luz do dia, mas não estava nem livre nem solta. Era uma prisioneira, livre, optou por pensar assim.

Uma porta se abre, lá estava Samus e uma figura ao seu lado, não acreditou, era o Presidente.

– Senhora Harrison, muito prazer.

Ficou muda. Eles deviam estar muito ferradas.

– A senhora já foi atualizada dos acontecimentos?
– Não, senhor.

O presidente olha com reprovação para Samus.

– Vou ser direto. Está chovendo dinheiro e nós precisamos que isso pare.

Linda olhou com um misto de interrogação, humor, descrença.

– Desculpe, senhor Presidente, o senhor disse que está chovendo dinheiro?

Samus toma a palavra.

– Faz mais de 30 dias que começou a chover notas de um dólar incessantemente. Elas “nascem”, nem sei ao menos que termo usar, a 10 mil pés e caem como chuva. Fora isso, nada mudou, o clima é o mesmo, a chuva normal segue acontecendo.
– Entendo, por isso estou aqui, o senhor acredita que isso venha de outra dimensão.
– Está aqui por que não sabemos que caminho seguir, então, vamos seguir todos, e o seu, é um deles.

O Presidente volta a falar

– Senhora Harrison, se conseguir nos ajudar com isso, terá o perdão presidencial e uma carreira brilhante pela frente, será conhecida por seus feitos. e não por seus erros. Agora, preciso ir, boa sorte.
– Posso sair?
– Da cela, sim, das instalações, não.
– Que lugar é esse.
– É o lugar que deve ficar.

O Presidente vira as costas e sai pela porta lateral seguido por seu secretário e por um de seus seguranças.

– Então, Dra. O que precisa para começar a trabalhar.
– Da minha sala.
– Isso é impossível no momento, mas posso fazer a sua sala vir até você ainda hoje.
– Ok, ok. Onde vou trabalhar?
– Aqui. Terá todos os recursos que necessitar.
– Vou deixar que se atualize enquanto suas coisas chegam. Na pasta “123”, me perdoe a simplicidade, vai encontrar todas as pesquisas que fizemos até hoje. Todas as nossas tentativas, enfim, verá onde fracassamos para não perder tempo.
– Ok, ok.

Samus sai, a porta se fecha e linda fica um minuto incrédula.
– Chovendo dinheiro?

Parecia um filme de baixo orçamento ruim, mas estava de fato acontecendo.
Teria ela causado essa brecha? Aliás, era uma brecha?
Linda percorre as redes sociais e principais canais de notícias. Sentia falta disso, se ouvir o presidente falar sobre falta de dinheiro era estranho, ver a cena era ainda mais… A porta se abre, a primeira caixa de seu antigo escritório chega. Era hora de trabalhar.

 

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4

Temporada Final:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3


Julius Stranger: o dono do mundo – Temporada Final – Ep2

Chovia dinheiro, era simples assim.

Era imbecil, parecia ficção científica, mas sim, chovia dinheiro. O caos da manhã, mudara.
Antes as pessoas se matavam por dinheiro, agora o problema era excesso dele. Não parava de chover dinheiro.
Alguns carros já estavam submersos.
Havia fogo em todo lugar.

O governo se apressava em dizer que aquele dinheiro era falso.
Um ataque de uma nação inimiga para desestabilizar a economia do mundo todo.
As notas de $1 perderam valor. Um decreto anunciava que elas não teriam mais valor.

Mais revolta.
Os que conseguiram depositar o dinheiro antes estavam, em tese, garantidos.
O problema seguia, continuava chovendo dinheiro.

Samus Davidson era engenheiro Senior da Nasa há mais de 20 anos.
Ela já sabia que o dinheiro não vinha do espaço, não vinha da estratosfera e também não vinha de aeronaves, ele simplesmente aparecia a cerca de 10 mil pés de altura. Não havia uma explicação que pudesse ser dada:

– Senhor, o presidente está na linha, avisou a secretária.
– Diabos com o presidente.
– Eu estou na linha Davidson, avisou o Presidente.
– Desculpe, senhor, estamos sob muita pressão.
– Ok, o que tem pra nós?
– Nada, senhor. Absolutamente nada. O dinheiro aparece do nada.
– Mas isso é possível?
– Em tese, não, mas como estamos vendo durante todo o dia, sim.
– Temos como parar?
– Não tenho essa resposta. Em tese, novamente, seria preciso uma grande quantidade de fogo lançado continuamente, algo insustentável.
– Qual sua sugestão?
– Senhor, vai parecer tolo, mas o senhor lembra do Projeto Book Back ?
– Não posso falar sobre isso. Mas o que tem?!
– Então, senhor, essa situação me lembra vagamente o caso Cameron.

Cameron Presley Yard, um jovem recruta de 19 anos, tinha entrando no exército porque precisava de emprego, a família passava necessidade. Sempre fora ágil, era o soldado ideal para o projeto experimental Projeto Book Back.

O nome só era “sonoro” como argumentava Linda Harrison, mulher alta, morena e de um sorriso inconfundível, mas que confundiu a mente de Cameron que não conseguiu dizer nenhum “não” a Linda.

O projeto basicamente consistia em entender as diversas peculiaridades entre as dimensões. Nada de ficção científica, basicamente, primeira, segunda e terceira, já conhecidos pela ciência.

– Cameron, preciso te pedir algo, disse Linda vestindo apenas uma camiseta surrada.
– Você literalmente não pede nada, respondeu Cameron, sem nem mesmo a camiseta.
– Amanhã, no Book Back, vou tentar algo novo, mas não aprovado pelo General, quero que você participe.
– É perigoso?
– Eu jamais colocaria você em perigo, Cameron.
– Ok, então porque não é aprovado?
– Burocracia. Esses caras só sabem lidar com regulamentos e não com ciência.
– O que vai ser?
– Basicamente, vou tentar ajustar a máquina para que você consiga ver algo na quarta dimensão. Só isso.

Enquanto mentia para Cameron sobre os perigos do experimento, Linda também pensava em como ganharia se conseguisse sucesso, ainda que de fato, ela não tivesse licença para tal.

O dia amanheceu estranho, a capsula de obervação de dimensões insistia em não abrir.
Uma chave, outra chave e nada. Ela se negava.
Linda estava mais agitada do que o normal. Conhecida por seu humor terrível, não tirou os olhos da tela e gritava com a equipe. Cameron esperava sua vez, queria dar um beijo de boa sorte, mas sabia que não podia. Ela era a chefe, ele o empregado.

Depois de muita insistência, uma nova chave, enfim, a capsula abriu. Cameron entrou e o que se seguiu é motivo de segredo de estado para todos os presentes.
Após ajustar a máquina para protocolos não autorizados, Linda apertou o imponderável. A tecla enter os levou a lugares não imaginados e pois fim a uma vida.

Após o “enter” luzes começaram a piscar aqui e ali, não lâmpadas, luzes.
Não em locais específicos ou com energias, específicas, mas sim, em vários locais. Apareciam e desapareciam.
Todos encantados, assustados e de repente uma voz lembra de algo:

– Cameron!

Aonde estava Cameron. Ele havia sumido.
Simplesmente, sumido.

Continua…

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4

Temporada Final:
Capítulo 1

O Museu do Amanhã 2 – Final

Antony G. Silverstone.

Esse era o nome que assinava o projeto, quem era Antony? Não demoraria muito para Jane descobrir. Apenas alguns metros dali encontrava-se uma seção toda dedicada aos notáveis, Jane presumiu, sem muito mérito, que alguém que pudesse ter um livro em uma biblioteca daquele tamanho, deveria ser uma notável.

Antony G Silverstone, nascido em Berlim, em 2023, físico nuclear, o único da história a ganhar 3 vezes o Nobel.
Sem falsa modéstia, assinou 4 autobiografias, outro recorde.
Entre seus trabalhos mais famosos estava aquele que versava sobre a manutenção de urânio em pequenas garrafas de cobre e refrigeradas a apenas 5 graus.

Algo parecia familiar.
Jane já havia visto isso em algum lugar e sabia onde: o museu.

Já era noite, mas Jane tinha feito de Manhattan seu local seguro.
Aqueles que a conheciam nem se deram conta da sua falta, costumava demorar dias até aparecer novamente.

Abriu a enorme porta do museu, sozinho, um mausóleo empoeirado que ainda mantinha o ar refinado dos tempos de glória, um enorme dinossauro a recebia em seu esqueleto, e um quadro enorme do Presidente Michael B. Morgam pairava sobre todos, assim como um grande ditador o faz quando não quer concorrência.

Passou pelas enormes salas do museu, avistou várias obras de arte cobertas pela censura religiosa imposta pouco antes da final de tudo, até que chegou a sala que buscava, a sala AGSilverstone.

Lá, enormes quadros de sua infância na Alemanha, alguns, livros, um pequeno aparelho com tela na frente que não parecia ter muita utilidade e lá estava ela, a garrafa. Ela era pouco maior que o seu braço, jazia com enormes fios elétricos ligadas. Alguns botões, um verde chamou a sua atenção, era quase um convite.

Pressionou.

Luzes que ela nem sabia estarem ali começaram a piscar, uma música radiante, alta tocou.
Letras começaram a aparecer na parede.

Parabéns, você chegou na fase final.

Alguém, dessa vez de carne e osso, comemorava.
Havia terminado o jogo.

Na tela, a imagem congelada de uma Jane confusa.
Estava viva, mas era controlada.
Ou controlava?
Não era possível saber, mas sim, uma pequena lágrima em forma de pixel se formou, como se entendesse sobre seu destino trágico. Era prisioneira de um mundo cruel em que não poderia escapar.

O museu do amanhã

Fazia frio na Ilha de Manhattan. Era uma manhã qualquer do inverno em uma área abandonada desde a grande bomba. Não havia qualquer indício de vida, mas todos sabiam que o simples fato de estar ali era motivo de prisão sem direito a fiança.

Jane adorava aquele local, lembrava de um tempo em que a cidade era viva, que havia esperança até o dia que a bomba caiu e destruiu tudo. O engraçado é que o “destruiu” tudo é metafórico, a única coisa de fato destruída era a unidade de enriquecimento de urânio escondida, sob o olhar de todos no centro de NY.

Alguém errou alguma coisa, Jane tinha certeza disso, mas o governo afirmava que era uma agressão Russa. Nunca se saberia a verdade, mas a guerra era inevitável, aconteceu, destruiu todo o pais, menos a Ilha de Manhattan, que apesar de estar com os prédios intactos, não poderia ser habitada, afinal a radiação era muito grande.

Há 42 anos a grande bomba tinha caído, Jane, agora com exatos 42 anos pensou que não havia muito a perder estando ali. A vida era péssima, a mãe havia morrido durante seu parto, Jane era orfã, e ser orfã em condições normais já era difícil, naquela, era uma provação. Em dia de março, Jane perambulava pelas ruas, sem rumo, como todos os dias, aliás, e viu atrás de uma grande mata um cano, entrou, não tinha o que perder.

Na outra ponta, uma cerca arrombada denunciando a presença de outras pessoas e uma cidade inteira, sem marcas de explosão, sem corpos pelo chão, apenas “deixados”, prédios, apartamentos, casas, tudo intacto, era um verdadeiro parque de diversões para Jane. Ela sabia, havia radiação ali, se alguém a visse no local, ela seria banida para sempre.

No começo, apenas curiosidade. Encontrou uma Wallgreens com produtos, vencidos, mas que ela nunca tinha visto antes. Comeu, não passou mal. Talvez uma dor de barriga, mas nada além, aquilo trouxe confiança. Iguais aquele local, uma infinidade, de outras marcas também. Se perguntava quanto tempo mais iria ficar viva, afinal, todos sabiam, pisou em Manhattan, morto está.

Um ano se passou e Jane começou a pensar que talvez não morresse, que talvez o governo estivesse mentindo sobre o local. Não sabia, mas tudo aquilo era bom demais para ser só dela. Mas era. Seu local preferido era a biblioteca, lá havia histórias e conhecimento ilimitado ela aprendia e se perguntava: por quê?

Um dia, olhando nas gavetas abandonadas, encontrou um diário, nem conhecia o termo, mas sabia que ali estava um relato do dia a dia. A vida de uma pessoa que vivia aquela época, lia aquelas páginas com afínco, desde que encontrara seu paraíso sua leitura havia melhorado e muito, então, conseguia ler perto de um livro por semana, sem dificuldade, rápido, de repente a velocidade diminuiu e ela ficou presa em uma frase:

“Human Off Project”

Continua…

Julius Stranger: o dono do mundo – Temporada Final – Ep1

Sempre temos certeza de quem somos?
Somos capazes, por exemplo, de saber como reagiríamos a uma situação antes mesmo dela acontecer?
A resposta comum é, sim. A resposta certa é, não.

Quando Julius decidiu colocar aquela nota de dólar, aquela única dólar no cofre seu pensamento, ainda que não manifesto, já tinha bolado um plano, e ele era simples. Se a mensagem do dólar funcionasse, iria parar a si mesmo, nunca inventar a máquina. Iria escolher ter uma vida. O dólar foi apenas um teste.

Diz a filosofia que um mesmo homem não pode tomar banho em um mesmo rio duas vezes, ambos mudaram no momento em que o tal banho terminou. Nada poderia ser mais verdade. Julius não contou com um adversário absolutamente insólito, e praticamente invencível: ele mesmo.

Quando disparou a mensagem para o universo, Juliu pensou no Julius do presente, com experiência e vivência suficientes para saber o significado daquela ação, esqueceu dele mesmo no passado. Daquele Julius benevolente que buscava ajudar a todos.

Quando o Julius de 15 anos do passado recebeu a mensagem a entendeu de maneira extremamente diversa. Pensou se tratar de um conselho do futuro, algo como “e se todos tivessem acesso ao dinheiro?”. Ele não sabia. Como poderia? O erro de Julius lhe custaria muito. Ele descobriu isso no dia seguinte.

Julius acordou e imediatamente soube que algo havia mudado. Não sabia exatamente o que era mas o arrepio que sentiu denunciou a situação, ele nem sabia explicar, mas sentia uma sensação estranha no ar.

Se levantou, e viu o caos. Pessoas correndo, gritando, se pegando por dinheiro. Ficou atordoado. Lembrou do seu plano, do dólar no cofre do banco. Tudo parecia confuso, como aquilo era possível?

Tinha ido longe demais? Não poderia desfazer tudo, era tarde demais. Era?

Precisava fazer alguma coisa antes que … o quê? Nunca conseguira manifestar o futuro em forma física, isso nem mesmo é possível por qualquer lei conhecida, então…como?

Mas como?

Como?

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4

 

Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep4

O plano era simples:

Tentaria enviar para si mesmo no passado um pedido: guardar um dólar em um cofre de um banco. Simplesmente isso. Em suas contas, isso não mudaria nada, mas, ele sabia, algo seria mudada, ele só ainda não detectara essa mudança, afinal, esse cofre deixaria de pertencer a alguém, deixaria de guardar algo.

Havia também o risco de sua versão no passado simplesmente pensar estar louco, então, uma linha de pensamentos e ideias significativas iria se perder, então o reflexo temporal transverso poderia se apresentar de maneiras que não poderiam ser previstas. Simplesmente tudo, a partir do momento do envio da mensagem poderia deixar de existir, sumir, melhorar ou piorar.

Era arriscado, talvez arriscado demais, mas também era, não fazer nada. Não tinha mais dúvidas. A simplicidade do plano era sua fortaleza, conhecia a si mesmo razoavelmente bem para saber que a chance de enlouquecer era pequena.

Começaram os preparativos.

Funcionava de maneira pouco ortodoxa, afinal, iria mandar a mensagem para o universo, qualquer pessoa com a mesma frequencia poderia acessar a mensagem, por isso, a ideia do dólar, ela basicamente não conseguiria mudanças drásticas, ainda que outras fontes pudessem captar a mensagem. Já tinha descoberto há muito tempo que o universo e seus acontecimentos de tempo e espaço estavam interligados. Basicamente, tudo que já aconteceu, ou que ainda acontecerá são vibrações constantes que, decodificadas da maneira correta se transformariam em imagens entendíveis aos olhos humanos.

Entendendo que o tempo não obedecia à ordem cronológica preconizada pelo humano, quando a mensagem do dólar fosse jogada para o universo, se misturaria com as outras infinitas, então, o plano consistia em enviar e deixar que ela fique disponível sempre, o Julius de todos os passados, assim como o do presente, e também do futuro veriam e poderiam codificar a mensagem, mas somente um deles tomaria uma atitude, o primeiro a receber, os demais já teriam a lembrança desse acontecimento, por isso, descartariam a execução da tarefa.

Passava pouco da meia-noite.
O silêncio estava quebrado por um som de turbina com um tilintar estranho.
Uma chuva de dólares começara a cair no planeta Terra.

Os locais que já tinham a luz de sol do dia seguinte não conseguiam entender o que era aquilo.
A polícia tentou isolar áreas ou evitar que se pegassem os tais dólares, mas viu ser inútil.

Brigas aqui e acolá se somavam.
A maioria dormia.
Julius, dormia, levaria ainda 7 horas para ele despertar.
Seu pai ligaria.

Todos se perguntavam o que estava acontecendo.
Seria algum bilionário excêntrico.

Lentamente, o mundo entendia que não era um local específico que havia recebido a tal chuva de dólares.
Todos os lugares, mares, ilhas, casas, campos, não importava.

Havia dólar para quem quisesse catar.
A “chuva” durou pouco mais de um minuto.
Foi intensa e impossível de calcular.

Algo novo acontecera.
Algo que não pode ser previsto, nem mesmo por Julius Stranger.
Se ao menos ele tivesse olhado com mais atenção ao ano seguinte…

Continua…

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3

Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep3

O mundo não é coisa fácil de ser moldada, é preciso levar tantas variantes em conta, que as próprias variantes mudam no caminho fazendo com que não haja contas certas.

Um dia, quando Julius era apenas um menino de 8 anos pediu ao seu pai uma bicicleta de presente, era algo meio antiquado até mesmo para o seu tempo, portanto, era caro, o pai lhe prometera, mas,  com uma condição:

– Manter o quarto arrumado, e o quintal limpo.

Durante 5 meses tudo foi com o pensado, Julius tinha cuidado, algumas vezes, até mesmo evitava brincar para não bagunçar nada, porém James, seu primo não tinha nenhum compromisso firmado, transformou o quarto numa filial do inferno, seu pai viu, nada falou, mas no momento oportuno, cobrou o preço. Julius não ganhou a bicicleta, o primo negou ser o responsável pela bagunça, então, aprendeu uma lição:

Não confie em ninguém.

O tempo passara, já se passavam 8 meses do caos e da prisão de Julius e sua cabeça, agora motivada pela mudança se perguntava o que seria do futuro. Não poderia, nem queria, viver para sempre. Fracassara em inventar uma máquina do tempo para dizer a si mesmo que não fizesse nada disso, também havia a questão inexplorada no reflexo temporal transverso. Um termo que ele mesmo inventou para exemplificar coisas que poderiam mudar pelo simples fato de serem tentadas.

Podia morrer. Tic Tac. O tempo voa.

Julius, sabia exatamente quando morreria, isso se nada mudasse, ou melhor, se ele não mudasse nada. Então, estava razoavelmente confortável com os 18 anos que lhe restavam. Nunca teve coragem de ver o que lhe acometeria, somente sabia da data por aproximação, por não encontrar mais a si mesmo em uma faixa de tempo.

Ainda que arriscasse diminuir esses 18 anos, Julius precisa descobrir o que fazer com o poder que tinha nas mãos.

Não poderia deixar uma inteligência artificial no comando, já tinha visto esse futuro e ele não era nada bom para a humanidade que basicamente viraria escrava de si mesmo. Lembrava também dos livros de Asimov e tinha medo. Ainda pior que essa possibilidade, era entregar o “poder” a algum governo, já tinha visto esse futuro também simulando diversos governos no poder, todos se corrompiam ou cometiam erros tolos que os faziam perder o poder.

Precisava pensar, Tic Tac. O tempo voa.

O carro voava sobre nuvens, e de repente uma chuva de post its caia sem parar, neles, apenas uma pergunta:
Por que não me avisou? Tentava responder, mas já não estava no carro, agora lia um antigo jornal com um recado de alguém procurando alguém, ficava exasperado, o grito não saía.

Acordou.

Tinha a resposta para a sua questão.
Viajar no tempo já sabia, não era possível.
Mas, e se o reflexo temporal transverso pudesse viajar. Não ele. Mas um pensamento, não uma pessoa, mas uma mensagem?

A questão era arriscada, afinal, poderia tentar mandar uma mensagem para o futuro e ok, isso não traria consequências já que poderia mudar uma coisa aqui e outra ali e “arrumar” a questão, mas, caso tivesse sucesso, o que seria do futuro? E se a mensagem chegasse errada? O que isso significaria. Precisava testar a hipótese, poderia ser uma saída.

Sentiu-se naquele momento o Frodo em seu momento de glória. Conseguiria abrir mão do anel?

Continua…

Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep2

Havia mais de 6 horas que o Presidente estava tentando tirar informações de Julius, já suplicava a volta dos serviços e se via em um beco sem saída. Ou libertava o homem ali na sua frente ou o caos seguiria instaurado, mas, não havia qualquer garantia da volta dos serviços, que ele não sumiria novamente, ou pior, que ele não denunciaria o próprio país frente aos seus parceiros. Certamente as ações americanas seriam responsáveis por todo o caos, a decisão não era fácil.

James Hilton era veterano de exército e fora eleito 3 anos antes com a promessa de tirar os EUA da dependência de um “criminoso” procurado. James, na verdade, nem tinha nada contra Julius, apenas encontrou a oportunidade e o público certo. As teorias se multiplicavam: Julius era o próprio Lúcifer, filho dele, o anti-cristo. Todos viam em seus equipamentos ou nele próprio a marca da besta. Vídeos mostravam os “pais” de Július como líderes de uma seita satanista que buscava fiéis para o propósito do diabo. Hilton não era nem Republicano, nem Democrata, essa divisão já estava fora de moda há muito tempo, mas, pela primeira vez, alguém de fora conseguiu a eleição.

Os generais opinavam:

– Solte!
– Continue com ele preso!
– Torture.

Hilton, que nunca fora alguém de opiniões firmes, ponderou, pensou, repensou até que foi avisado sobre o sumiço de seu filho, James Hilton Jr, tentou contato por fone, não havia fone, internet ou qualquer outro modo de comunicação. Um papel escrito chegou ao serviço secreto, com uma letra típica de quem não escrevia, afinal, quem escrevia naqueles tempos?

Nela falava-se da morte do garoto caso os serviços não voltassem a operar. O Presidente estava acuado. Era claro que aquilo não era armado por Julius, ele não saberia que o Presidente estava naquele local, naquela hora, estava preso fazia muito tempo, eram os agentes ou militares, só podia ser.

De repente o Presidente foi tomado pelo terror. Estava cercado, era um comandante sem exército, ou pior, com conspiradores que juravam lealdade.

Hilton, pediu para todos saírem, sob protestos dos assessores mais próximos desligou qualquer comunicação, sentou ao lado de Julius e sussurou.

– Quer sair?
– Quero.
– Ligará as comunicações?
– Talvez. Não sei se devo.
– Só te libero se prometer.
– Talvez não deva me liberar. Aqui, não sou um perigo para ninguém.
– Então, faça o mundo voltar a funcionar, passe o controle as minhas mãos.
– Não posso. Tudo é grande demais para um governo. Você se corromperia. Eu mesmo fiquei próximo disso.
– Meu filho corre perigo. Me ajude.

Stranger olhou horrorizado para o Presidente. Não entendia o que aquilo queria dizer, mas sentiu naquelas palavras não um pedido, mas medo. Alguém com medo de perder quem ama.

Reconheceu o sentimento. Era íntimo dele. Lembrou dos pais. Estavam seguros, mas até quando? Naquele momento odiou a si mesmo e o momento que fez a maldita descoberta. Uma máquina de probabilidades reais. Que diabos… o futuro uma tela que poderia ser corrigida, o passado um livro sem censura. Era poder demais.

– Me libere. Quero um carro século XXI, desses que tem no museu. Quero sua garantia que não serei seguido. Saiba, provavelmente nunca mais me verá. Não me deixarei ser encontrado novamente. Essa é a sua última chance de me prender, essa decisão moldará o futuro. A única coisa que posso afirmar. Sou do bem. Quero o bem. Infelizmente a maioria de nós nunca está satisfeita com isso, por isso, há distúrbios.

Quando chegar, quando estiver longe e seguro, religarei tudo, mandarei uma mensagem ao mundo com alguma desculpa esfarrapada, tentarei diminuir as coisas ruins ao máximo. Não sei se terei sucesso.

– Vá!

– Um Cadilac 1958 que estava parado no Museu de Espionagem foi o veículo que o Dono do Mundo usou para ser visto pela última vez. Até houve uma tentativa de segui-lo com drones, mas, Julius não era pessoa que se deixava ser seguida. Também, já sabia que utilizaria aquele mesmo carro, bastou apertar um botão secreto para que sumisse de qualquer tentativa de visualizar seu paradeiro.

Era 21h33, horário de Washington, DC,  quando todos os serviços, de todo o mundo estavam de volta, em pleno funcionamento. As multidões se acalmaram e foram para suas casas. Era hora de contar mortos e feridos, era hora de governos se explicarem. Era hora de Julius preparar o seu próximo passo.

Continua…

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Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Segunda Temporada:
Capítulo 1

Julius Stranger: o dono do mundo – 2t Ep1

Julia, uma carioca da Baixada Fluminense tentou falar com o filho pelo telefone e não conseguiu, o telefone parecia mudo. Tentou uma mensagem de texto, mesmo resultado, apelou para a internet, nada! Estava sem comunicação.

Matteo era o responsável pelo sistema de sinais de trânsito de Berna, na Suiça, sua manhã estava um inferno como há muito não vivia, os sistemas simplesmente pararam, era necessário o envio de guardas de trânsito para organizar a cidade, mas não havia tanta gente assim disponível, com a baixíssima criminalidade e a confiabilidade do sistema eletrônico, nunca fora preciso. O caos estava instalado.

Ainda que considerasse Julius um criminoso, os equipamentos disponibilizados por ele eram bons demais para serem ignorados, e a NASA era uma das muitas agências do governo que dependiam deles, mas, naquela manhã, eles não funcionaram, anos de pesquisa estavam simplesmente inacessíveis.

Assim o mundo todo parou por absoluto. Até mesmo China e Coréia do Norte que haviam propagandeado que não utilizariam sistemas de um “criminoso” estavam paradas mostrando assim sua mentira e hipocrisia.

Nada funcionava e as consequências foram imediatas. Como nos bons anos do início do século XXI o povo foi às ruas protestar contra a situação. Protestavam contra Julius, contra os governos e as instituições. Queriam de volta as facilidades a que estavam acostumados. Lojas eram depredadas, violência sem aparato policial para conter a fúria imprudente dos manifestantes.

Feridos começam a chegar nos hospitais, mas não há médicos, não há equipamentos funcionando, não enfermeiros, apenas uma estrutura física lembrando as pessoas de quando ainda ficavam doentes e não havia cura ou esperança. O mundo estava pronto para sucumbir, em apenas uma manhã retornou ao século XXIII, mas dessa vez com requintes de crueldade: ninguém sabia como fazer nada, como haviam se acomodado, não tinham conhecimento para qualquer coisa. Não sabiam sequer fazer uma fogueira para preparar um alimento, os fogões elétricos não funcionavam, a própria luz os abandonou.

A ONU ou a OTAN procuravam Julius desesperadamente, incentivaram os países a retirarem quaisquer tipos de sanções ao homem, ele deveria deixar de ser alguém procurado, as coisas estavam piorando rapidamente, a maioria deles aceitou a sugestão e fizeram convites públicos para que Stranger fosse até seu território, até mesmo os Estados Unidos que, em um jogo de cena, omitiu de seus parceiros que havia prendido Julius, que o tinha sob custódia e que pretendia segurá-lo quanto tempo fosse possível. Oficialmente ele seguia desaparecido, era agora alguém preso fora dos registros.

As acusações contra Stranger variavam de quem perguntasse, passava por roubo, participação em organizações terroristas, crime contra o sistema financeiro, enfim… ele praticamente zerava o sistema criminal dos Estados Unidos. Em seu primeiro depoimento, abriu mão de advogados e apenas repetia a pergunta:

– Que mal eu fiz?

A pergunta trouxe estranheza, pois ela também parecia uma interjeição.

A maioria dos investigadores ali presentes morava em uma das casas de Julius, utilizava o celular e a rede de internet de Julius e tinham uma certeza, aquele homem na frente deles parecia apenas mais um homem, não o maior de todos, não o dono do mundo.

A porta se abriu de repente se abriu e o próprio presidente dos Estados Unidos, junto a seus generais mais próximos, entrou na sala de depoimento. Sem rodeios o presidente exigiu:

– Traga de volta os serviços! Agora! Já!

Julius olhou para ele e novamente indagou:

– Que mal eu fiz!?

Continua…

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Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 6

Já não havia como declarar Julius uma pessoa fugitiva, oficialmente ainda era, mas o apoio popular era gigantesco e dificultava qualquer tipo de retaliação. A população, ainda que nunca tivesse visto uma só foto de Julius, o amava. Graças a ele, a maioria dos seres humanos contava com algum serviço das empresas de Julius e por eles pagavam preços modestos, quando pagavam.

Stranger ganhava prêmios, Nobel na Noruega e era “terrorista” na China e na Coreia do Norte, era fugitivo nos Estados Unidos.

Já tinha 10 anos desde a reunião da OTAN, e as autoridades se acostumaram com a “ameaça” Julius, contrariando os principais medo das nações não houve nesse período, nenhum ato hostil, de fato, o estranho parecia genuinamente só querer o bem de todos.

Mas se há uma verdade universal de todos os tempos é que a mudança sempre se impõe e a falta dela incomoda.

O inverno estava rigoroso, o frio tomava conta, mas ninguém morria de frio ou fome. A verdade é que, no novo mundo formado por Julius, somente não tinha casa ou apartamento e/ou um emprego quem não queria. Havia em abundância, para todos, e isso, acredite, tornou-se um problema.

Um sentimento de calma, acomodação se instalou na sociedade, tudo era tão barato e de tão boa qualidade que as pessoas simplesmente desistiram. Não buscavam novas descobertas, não tinham ambição de novos cargos ou conhecimento.

Julius previu esse cenário e tentava mudá-lo, mas sem sucesso.

A população parecia não “gostar” da harmonia em que estava inserida, começaram a se fechar em mundos vazios e solitários, o resultado foi o esperado:
o número de suicídios disparou, a maioria das igrejas fechou suas portas, já não fazia muita diferença se você era Cristão, Judeu ou Muçulmano, pouquíssimas pessoas buscavam Deus.

As escolas estavam vazias, não havia nem professores, nem alunos.

Em todo mundo, começaram a surgir regimes totalitários, mas de um modo diferente, como não havia protestos, os ditadores se impunham sem armas, simplesmente ninguém se importava, os usurpadores de cargo se apoiavam em poucas pessoas extremistas que queriam acabar com aquele estados das coisas.

Esses cenários também foram antecipados por Strange que se viu em uma sinuca de bico.

Se por um lado, conseguiu entregar a população um mundo muito melhor, o povo, essa entidade sem gênero, não sabia conviver com isso. Os poucos palcos religiosos que restavam acusavam Strange de manter um pacto com o demônio, instigavam seus fiéis a se abster dos produtos ou das facilidades entregues por Julius, algo quase impossível. Parecia que uma nova cruzada.

Não demorou, Julius entrou em uma depressão profunda.

Assim como a maioria das pessoas, não tinha mais ambições, era vítima da própria criação.
Não se manteve atento, ficava dias embebido nas lembranças de Karen amando e odiando aquele momento, repassava cada momento, cada olhar, cada toque, e como se quisesse finalmente ser pego, Julius cometeu uma série de erros, e então, numa tarde nublada de outubro, foi, finalmente surpreendido por uma força de governo.

Era domingo, estava no Texas nos Estados Unidos, em um rancho simples, fora finalmente preso.

Teria muito o que explicar. Não sairia dessa tão facilmente, ele sabia, porém, não se importava, estava farto. Era o fim…

Continua.

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 5

Já havia se passado 5 anos desde aquele depoimento, Julius já não era uma pessoa “encontrável”. Governos de todo o mundo já o tinham no radar, mas, como um passe de mágica ele sumira. Era como se estivesse sempre um passo a frente dos demais. Algumas vezes “quase” o pegavam, porém, o “quase” se perpetuava.

Suas contas bancárias eram esvaziadas dias antes de serem bloqueadas por governo, suas posses eram abandonadas pouco antes da chegada das autoridades.

Não havia como “pegar” Julius.

Seus pais garantiam manter contato com o filho que garantia não fazer nada de errado, portanto, não havia razão para se submeter novamente a qualquer depoimento.

Já era quase dezembro, pouco antes do dia de Ação de Graças, os agentes do governo faziam campana 24×7 na casa dos Stranger, os telefones, emails, chamadas, tudo era monitorado com a mais alta tecnologia disponível, mas Julius não aparecia. Era um fantasma. Aquilo não poderia continuar daquela maneira, e, pela primeira vez na história da OTAN, houve uma reunião fechada entre os líderes das maiores nações do mundo, não havia intérpretes, a tecnologia dava conta.

O tema era apenas um: Julius Stranger. Ele afetava a vida de todos os países envolvidos, comandava a riqueza quase total de alguns países. Comandava a tecnologia, os instrumentos de defesa, era dono de indústrias bélicas e farmacêuticas, a bem da verdade, com apenas uma simples vontade de Julius, nações inteiras entrariam em colapso. Naquela sala, as maiores nações do mundo eram reféns da boa vontade de apenas um homem.

Após intensas deliberações, chegou-se a conclusão que o perigo real era Julius, ainda que não fosse eleito, contava com a admiração popular já que suas empresas ofereciam os melhores serviços por preços irrisórios. Defendia publicamente, ainda que sua própria imagem não fosse conhecida, questões ambientais, distribuição de riqueza e outros temas pouco populares entre políticos.

Diziam que ele tinha pacto com o demônio, outros afirmavam se tratar de um ET, falavam sobre influência externa, não importava o país, a forma ou ainda a ideologia, todos afirmavam que Julius era um perigo e precisava ser detido. Virou o inimigo público número 1. Precisava ser parado, agora.

Como primeiro ato, declararam-no fugitivo da justiça, para a pouca imprensa que ainda não estava nas mãos de Julius iriam declarar que Julius estava envolvido com grupos terroristas visando destruir o modo de vida da nação, não importava qual seria. Era um extremista a partir daquele momento. Também acordaram que fariam uma série de atentados terroristas e os atribuiriam a Julius em busca de apoio popular, por fim, iriam prender os pais fazendo com que Julius aparecesse, aquele casal era a única coisa com a qual aquele desconhecido tido como gênio se importava.

Nos meses seguintes, todos os planos dos governos falharam, um a um, parecia um jogo de xadrez que não poderiam vencer, Julius parecia uma espécie de Deus que conhecia tudo, antecipava tudo, tinha respostas para perguntas que ainda nem haviam sido feitas.

Como combater um deus que não aparecia, que não mostrava o rosto, que não buscava reconhecimento, simplesmente Julius era um perigo por não ter um objetivo único. Não formava amigos, mas, a exceção dos líderes, também não fazia inimigos.

A partir das empresas de Julius, a conexão com o mundo virtual alcançou 100% dos interessados a partir de aparelhos doados e mensalidades que giravam entre 1 e 10 dólares. Havia a construção de casas com infraestrutura dos bairros mais abastados com preços abaixo dos menores apartamentos e parcelamentos que impossibilitava até mesmo a inadimplência. As mais de 100 companhias aéreas de Julius ofereciam a tecnologia do voo supersônico a partir de combustíveis movido a luz do sol e hidrogênio. Os voos eram baratos, estavam sempre lotados e a difusão das pessoas entre diferentes culturas ajudou na tolerância.

O meio ambiente se recuperava, a xenofobia praticamente não existia mais, o racismo se tornou uma palavra arcaica que, às vezes, precisava de dicionário para ser entendida, o mundo nunca estivera melhor, as pessoas nunca viveram tanto e com tanta qualidade e, ainda assim, jamais esteve tão perto do seu fim, já se passara 10 anos do “reinado” de Julius.

Julius, precisava ser detido, mas como?

Continua…

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 4

Aquela mina tinha tanto ouro que era difícil acreditar que ninguém até então havia se dado conta da existência dela. Julius, havia adquirido a propriedade por um preço ínfimo, ninguém antes dava qualquer tipo de atenção para aquele deserto abandonado. Ninguém conseguia acreditar, poucos dólares haviam se transformado em uma das maiores fortunas já vistas.

Julius não era o mesmo homem que há pouco mais de 2 anos perdera o amor, que na verdade, nunca teve. Karen, ainda era lembrada, é verdade, mas como um sopro, uma lembrança que embala pensamentos em uma tarde chuvosa.

Mas, como Julius já antecipara, a “sorte” de encontrar ouro em lugar tão inóspito traria questionamentos, principalmente governamentais, trouxeram!

Em uma tarde de domingo diversos carros pretos, 4 no total, pararam na escada da nova mansão de Strange, vieram buscá-lo para depoimento em uma agência obscura. Julius já estava na escada com malas prontas, ao ver os agentes, simplesmente disse:

– Estou pronto.

Surpresos, confusos, nada disseram, ele entrou no carro e foi conduzido para um prédio no centro da da cidade, sem maiores explicações.

A sala em que foi colocada era ampla, fria, porém muito bem decorada com réplicas de quadros famosos, uma enorme mesa de escritório e algumas poltronas confortáveis. Julius sentou, e aguardou, 14 minutos depois, uma homem de meia idade, calvo, vestindo um terno barato e uma expressão séria foi direto ao se dirigir, ao que agora parecia, um investigado:

– Como você  sabia da localização de todo aquele ouro?
– Eu não sabia. Comprei o terreno para construir uma casa e um laboratório fora da cidade, como você sabe, eu sou um cientista. Precisava de espaço. Foi sorte.
– O senhor espera mesmo que acreditemos que encontrar todo aquele ouro, em um lugar isolado, longe da sua cidade natal, foi apenas um golpe de sorte?
– Eu não espero nada, essa é a verdade.
– Ok, vamos imaginar que isso seja a verdade. Como o senhor ficou sabendo desse rancho?
– Simplesmente entrei na internet e pesquisei um local com as características que queria, conforme já falei com o senhor. Sei que o senhor já invadiu meu computador e viu minhas buscas, sabe que isso é verdade.
– Nós não invadimos seu computador, não poderíamos fazer isso sem uma autorização.
– Claro, papai noel me contou isso ontem.
– Não estou gostando do seu tom. O senhor está aqui apenas para averiguação, ainda não é investigado por nada.
– Então posso ir embora?
– Assim que eu terminar minhas perguntas.
– Mas eu não devia ter direito a um advogado?
– Você acha que precisa de um?
– Sei que não.
– Vamos fazer assim, iremos retomar nossa conversa amanhã. Que tal eu lhe oferecer uma hospedagem aqui nas nossas instalações?
– Certo, já estou com as malas prontas.
– Mas como o senhor sabia?
– Foi um palpite.
– Mais um golpe de sorte?
– Pode-se dizer que sim.

Na manhã seguinte, ainda que tivesse uma noite agradável, um jantar refinado, Julius arrumou as malas e iria embora. Mais uma vez foi até a mesma  para “conversar” com a mesma pessoa.

As perguntas se repetiram, a insistência com o golpe de sorte, mas nada além disso, o agente sabia que não poderia manter Julius ali por mais tempo. Afinal, ter “sorte” não é contra a lei.

Julius foi para a sua nova casa, sentou-se em frente da sua tv, antiga, que não combinava com o ambiente, parecia mais uma peça retrô do que um equipamento que de fato funcionasse. Julius pegou uma espécie de controle remoto, digitou alguns números e ali, naquela tela, o agente apareceu, vestindo o mesmo terno barato, e com a mesma calvície brilhosa. Julius assistiu à cena e ficou tranquilo. Teria alguma paz.

Continua…

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 3

O natal se aproximava rapidamente, daquela data Julius não poderia escapar de modo algum.
Teria que ir para a casa dos seus pais. Já sofria por aquilo, não que não os amasse, amava, mas o trabalho tinha entrado em um estágio que envolvia excitação e alguns resultados bastante promissores, mas, e na vida sempre há um “mas” ela ainda não compreendia como comprimir tempo como uma fita, e isso era crucial.

Seu pai puxou a oração na hora da ceia, religiosa, sua família nunca deixara passar um natal sem reunir todos, o jantar e os presentes eram uma tradição, como em tantos lares, e aquela ceia jamais seria esquecida.

O Pai de Julius, John, contava histórias de sua infância e adolescência e nesta ceia contou como gostava dos finais de ano em que os vaga-lumes apareciam em profusão, como ele e seus amigos aprisionavam os insetos em vidros e a luz permanecia por muito tempo sendo admirado por todos.

Se fosse um desenho animado, uma lâmpada teria aparecido na cabeça de Julius:
– Era isso!

Claro. Era tão simples que era incrível alguém ainda não ter pensado nisso.
Julius se despediu dos pais e do restante da família e voltou ao trabalho na sua casa, já sabia como dominar o tempo.

Basicamente Julius entendeu que o mundo, o universo, enfim, tudo que existe, é um conjunto de prótons, neutrons e elétrons dispostos de diferentes formas e combinações que assim, formavam diferentes corpos. Mas, a simples existência desses elementos já deixava em si um “marca” no universo. Algo invisível, algo intangível, mas que estava lá.

Julius entendeu que para dominar o tempo teria que traduzir essas impressões temporais  em algo que pudesse ser visto pelo ser humano, não demorou muito. Depois de 90 dias, nem mais, nem menos, o mundo mudou.

A frequência traduzida a partir de fórmula matemática de David Hielbert, nada mais fazia do que transformar frequências zeta em uma espécie de sinal de tv aberta.

No dia 25 de Março, às 16h43, Julius conseguiu a sua primeira imagem.
Um casal que ele nunca tinha visto na vida, falando uma língua totalmente desconhecida por ele, discutia algum assunto aleatório.
A mulher vestia um vestido, mas não muito volumoso, branco com rendas e babados, já o homem, um colete preto com uma camisa branca semi-aberta, mangas enroladas e chapéu preto, parecia uma cena de filme antigo, parecia uma casa humilde.

Ele não sabia quem era, aonde era, mas sabia quando era.

A cena que aparecia naquela espécie de tv mostrava um calendário e o ano era visível: 1911.

Continua…

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Julius Stranger: o dono do mundo – parte 2

O que é afinal de contas um dia?
Apenas a soma de horas e minutos para recomeçar em seguida?
Uma fase da vida?
Uma jornada?

Julius não tinha resposta para esse dilema que lhe acertara com força, afinal os dias perderam o valor para ele.
Já se iam 30 dias desde que Karen, a moça que mal conhecia, mas que amava com todas as forças do seu coração partira para não voltar.

Se ao menos ele pudesse viver mais um dia com ela.
Ouvir suas histórias, descobrir o que afinal de contas fez com que ela lhe desse atenção…
Mas não, ela se fora para sempre.

Minutos, dias, horas, tudo empilhado formavam uma conexão entre si, e isso, afinal de contas, era invenção? Era física? Era matemática?
O que era o tempo?
E se… E se houvesse um modo de domar o tempo? Fazer com que andasse para frente ou para trás?
Uma máquina do tempo? Não. As variáveis são tão subjetivas que apenas a tentativa já geraria muito risco para a vida.

Mas, o tempo tem necessariamente relação com o que chamamos dias, horas?

Depois de 30 dias, Julius retornou às aulas no MIT com uma convicção:
iria domar o tempo.

Afinal, quem “isso” pensa que é para determinar quando possamos ou não viver algo?
Falou com seus orientadores e pediu tempo para pesquisar, foi concedido, afinal, aquela mente não aprendera nada novo desde o primeiro ano.

O tempo.
Domar o tempo.

O tempo, aquele que deveria ser domado passou, Julius não saia de casa para nada.
Sua mãe e seu pai o visitavam vez ou outra para ver como ele estava.

Não entendiam como um romance de algumas horas poderia ter causado aquele efeito em Julius.
Tia Selma, tinha certeza de que se tratava de feitiço, era preciso quebrar.
Julius se divertia com aquilo e garantia que estava tudo bem.

Karen, era a inspiração, é verdade, mas o trabalho já tomara o coração de Julius e virou obsessão.
Era 13 de dezembro, seu amigo, na verdade, tinham se visto algumas vezes na Universidade, o convidara para o aniversário, mas ele não queria sair. Estava frio, a neve tomava as ruas e se acumulava…

Então, como alguém que lembra de comprar leite no final do dia, Julius teve a epifania.

Sim, ele iria conseguir domar o tempo.

Continua…

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Julius Stranger: o dono do mundo (parte 1)

Julius Stranger era o homem mais rico do universo conhecido.
Ainda que viesse de uma família pouco abastada, nunca lhe faltara nada e pode estudar nas melhores escolas, parte por seu próprio intelecto avançado, parte pelo esforço de seu pai, John Stranger, que trocava trabalho por estudo e materiais.

Ainda no ensino médio, Julius se destacava frente aos colegas e o resultado foi que não terminou nem o primeiro ano e foi alçado ao MIT com bolsa integral e salário para pesquisa.

Na universidade, a vida de Julius parecia um conto de fadas, podia se concentrar 100% do tempo nos estudos, tirava boas notas e não tinha nenhuma preocupação com contas, até que conheceu Karen.

Karen era o extremo oposto de Julius, ainda que também fosse razoavelmente inteligente, não tinha como estudar naquela Universidade, porém, vinha de uma família que se formava há gerações no MIT e eram doadores contumazes, com esse “currículo” acabou sendo aceita.

Naquele dia, o mundo de Julius, e de todos os seres humanos, mudou para sempre.

Como um incêndio que arrasa florestas, o olhos de Julius brilharam quando viu Karen pela primeira vez, era uma aula qualquer de física quântica, dessas que ele já decorara ainda na sexta-série, mas Karen não, ele nunca vira igual beleza. Seus pensamentos foram imediatamente tomados pela beleza de Karen que, percebendo os fulminantes olhares, se divertiu com aquilo e mandou um

– “olá”.

Fora o “olá” mais arrasador que Julius tinha ouvido na vida.

Alguém que estuda tanto, que não fez sequer o ensino médio, ou high school, não tinha tempo de namorar, e era isso, Julius nunca namorara, era, portanto, totalmente inocente na arte da conquista, ao contrário de Karen, que emendava relacionamento em relacionamento.

A partir daquele dia, os números, as invenções perderam espaço na cabeça de Julius que só tinha pensamentos para Karen. Ela, que havia gostado do jeito tímido e interiorano do rapaz lhe convidara para sair, um bar, uma bebida, uma passada no dormitório e pronto. Estava consumado. Julius não iria mais esquecer daquela noite.

Mas a vida, caros e desavisados leitores não é algo escrito em manuais e suas surpresas são o âmbar principal da existência, assim, na manhã seguinte, atrasada para a aula de geometria aplicada, Karen deixou Julius na cama e correu atrasada.

Uma rua.
Um carro.
Uma distração.
O fim.
Karen estava morta.

O mundo não sabia, mas naquele momento, seu destino estava selado, e um homem cheio de dor e sofrimento seria o seu dono. Os acontecimentos daquele dia ditariam a humanidade e seu triste destino.

Continua….

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

O início da guerra contra a lua

O ano não poderia ser pior, 2789, o planeta Terra acabava de ser atacada por Marte e sua colônia de humanos independentes. Havia resquícios de energia nuclear carbon 72 por todo lado. Graças aos cientistas da Nova Terra, os efeitos não passavam de simples dores de cabeça, ainda assim, incomodavam, e muito.

Com sua base na lua desde 2098, o ser humano transportou para lá um velho hábito: o da conquista.

Países independentes iam, se instalavam e depois, ansiavam por mais território, deve ser algum defeito no DNA humano, especulam cientistas, afinal, cada palmo da lua é exatamente igual ao anterior, ainda assim, havia guerras para conquistas de territórios.

Em 2356, tivemos um versão aprimorada do império romano dos tempos medievais, como são chamados os séculos anteriores ao 22, o povo PruRo, uma mistura de russos originais com alguns dissidentes europeus, havia conquistado toda a lua, todos os demais povos, incluindo o extinto povo (na lua) dos Estados Unidos.

Segundo as contas dos ministros terráqueos, não valeria a pena manter uma base na lua apenas pelo nome, a era da vaidade havia dado espaço para a era da razão.

Desde então, o povo Pruro começou um ambicioso projeto de oxigenação do satélite, o projeto, claro, era complexo. Havia a necessidade de 3 camadas de proteção multilaser para evitar as chuvas de meteoros e também de lixo estelar, cada vez mais comuns, as camadas teriam que ter a possibilidade de abertura e fechamento instantâneo para a saída e entrada de naves. Além disso, uma grande redoma de vidro seria colocada trazendo enfim um ambiente oxigenável para o satélite, a partir daí, permitir sua agricultura e auto-suficiência.

Tudo ocorria sem maiores intercorrências não fosse por um fato absolutamente simples: sementes.

Não havia sementes na lua, agora chamada de Planeta Independente PruRo. Uma comissão diplomática foi enviada ao planeta mãe para negociar a compra das sementes junto as autoridades, mas não obteve sucesso. Uma coisa era tomar para si um satélite sem expressão ou função, outra era querer transformá-lo em um planeta. Além disso, já havia diferenças visíveis nas marés ocasionadas pelo “fechamento” da lua.

Definitivamente não haveria negociação.

Sem saída, ao povo PruRo restavam duas opções:
– comprar o alimento necessário diretamente de outros planetas ou;
– atacar, roubar o planeta mãe em busca de sementes.

Continua…

Como será o mundo em 2500

future-holidays-image-2-704238141Ao contrário do que muitos pensam o mundo no futuro será muito melhor que o vivemos agora, mas até chegar lá teremos inúmeros problemas, passaremos por muitas coisas. Elucubrei este mundo e o apresento, agora, para vocês.

A partir de 2100 o mundo passará por uma fase de extremo extermínio. A superpopulação, as guerras, o fanatismo religioso chegarão ao seu ápice por volta deste ano. A fome tomará conta e as leis já não serão necessárias visto que as necessidades cegarão as pessoas. O pior dos mundos se apresentará. Guerras, principalmente químicas matarão metade da população da terra fazendo com que ela volte a níveis aceitáveis. A partir daí, já teremos tecnologia suficiente para conter pequenas ameaças. As religiões serão banidas dos governos e todo o mundo será gerido por um único governo representado por um conselho.

Em 2200 o mundo já estará habituado com sua nova condição agnóstica, haverá, claro alguns grupos que resistirão ao final das religiões, mas alguns focos que se apresentarem serão rapidamente debelados. Com o fim das religiões a ciência crescerá rapidamente, é verdade que nem todas as iniciativas serão, o que chamamos hoje de éticas, mas trarão significativos ganhos a longevidade e a qualidade de vida das pessoas. A tecnologia também terá um grande acréscimo de ganhos.

A partir de 2300 os carros serão totalmente banidos da sociedade, o transporte público será de qualidade e o emprego, graças a evolução da educação, cada vez mais segmentado e eficiente. A matriz energética será baseada em pequenas explosões nucleares que farão a geração de energia limpa.

Em 2500 esse crescimento da sociedade chegará ao seu ápice. Com exceção de cientistas e artistas ninguém irá efetivamente trabalhar. A tecnologia alcançará tal ponto que as máquinas farão todo o trabalho, incluindo sua própria manutenção. O campo irá gerar alimentos de qualidade para uma população que gera pouquíssimos filhos, o que será o grande problema da época e as indústrias igualmente totalmente mecanizadas contribuirão para a manutenção da sociedade. Não teremos mais separação por bens materiais, já que não trabalhamos e portanto não ganhamos dinheiro, seremos todos igualmente ricos ou pobres, tanto faz, tais adjetivos não existirão mais. Moraremos em casas confortáveis e com tudo que precisamos. Viveremos uma vida de estudo, de reflexão, alguns hoje pensam que “faremos nada”, mas ainda não entendemos o ganho em se “fazer nada”.

Cientistas e artistas serão os grandes astros sempre procurando maneiras diferentes de entreter e melhorar ainda mais a vida. O crime será praticamente zero pois, estaremos vivendo em um BigBrother, nada passará batido por câmeras de segurança. Os julgamentos serão rápidos e precisos. Os esportes também existirão e continuarão separando preferências, mas ganhará quem tiver o maior talento e não a maior verba para a montagem ou preparação, pois, como falei, as condições de todos serão as mesmas.

Não haverá doença sem cura, mas as pessoas continuarão morrendo se assim quiserem, a longevidade das pessoas alcançará os 200 anos, mas algumas pessoas, ainda crentes em “algo maior” não irão se submeter a órgãos criados pelo homem. Os amores e casamentos seguirão existindo e também se tornarão raros, já que a sociedade será excessivamente livre.

Viver em sociedade assim pode parecer um sonho ou um pesadelo, depende da realidade atual de cada um. Mas não se preocupem, não chegaremos lá para vermos isso.